Internacional

Direita tem ampla vitória no 1º turno na França; Macron pede União

O partido de direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, obteve neste domingo, 30, uma ampla vitória no primeiro turno de votação para a Assembleia Nacional da França, de acordo com projeções baseadas na apuração inicial dos resultados. O segundo turno será no próximo domingo, 7.

Projeções de institutos e emissoras públicas da França mostraram o RN garantindo confortavelmente o primeiro lugar com 33,2% dos votos. Uma aliança de partidos de esquerda, a Nova Frente Popular, ficou em segundo, com projeção de 28,1%. A aliança centrista de Macron, em terceiro, com 21%.

O sistema francês é complexo e não é proporcional ao apoio nacional a um partido. Se ao final da eleição o Reagrupamento Nacional obtiver o número necessário de cadeiras para a maioria absoluta, espera-se que Macron nomeie seu candidato, Jordan Bardella, de 28 anos, como primeiro-ministro em um sistema de compartilhamento de poder conhecido como coabitação. O partido também poderá fazer escolhas para o gabinete.

Os primeiros resultados não fornecem uma exatidão do número de assentos parlamentares que cada partido garantirá. Mas mostrou que o RN deverá se tornar a maior força política na Câmara baixa, ainda que não conquiste a maioria absoluta.

A participação dos eleitores, de 65%, foi muito alta, refletindo a importância dada ao pleito antecipado por Macron, em comparação aos 47,51% da última eleição parlamentar, em 2022.

Para Macron, agora em seu sétimo ano como presidente, o resultado foi um forte revés. Ao dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições antecipadas, ele apostou que a derrota contundente de seu partido para o RN na recente eleição do Parlamento Europeu não se repetiria.

União

Em uma declaração divulgada imediatamente após a divulgação das projeções, Macron disse que “diante do Reagrupamento Nacional, era hora de uma grande, claramente democrática e republicana aliança para o segundo turno”.

O sistema eleitoral torna incerto o resultado final da Assembleia Nacional, na qual os três blocos formados nas eleições de 2022 continuarão, mas com uma nova dinâmica de forças. Seus 577 deputados são eleitos em circunscrições com um sistema majoritário de dois turnos. Dependendo dos resultados de cada circunscrição, dois, três ou mais candidatos irão para o segundo turno.

Com até metade dos assentos em disputa entre três candidatos cada um, segundo as estimativas de ontem, o espaço para uma “frente republicana” anti-RN ainda é possível, mas a extensão da cooperação entre os partidos não estava clara. O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, apelou aos eleitores para evitarem de qualquer jeito que a extrema direita obtenha a maioria absoluta.

Como a aliança de Macron ficou em terceiro lugar, ela será forçada a tomar decisões estratégicas. Attal pediu a seus candidatos que ficaram em terceiro lugar em suas circunscrições que deixem a disputa para não tirar votos da aliança de esquerda e impedir assim uma vitória dos ultradireitistas.

Le Pen declarou que a França votou “sem ambiguidade, virando a página de sete anos de poder corrosivo”. “Meus caros compatriotas, a democracia falou e os franceses colocaram o Reagrupamento Nacional e seus aliados à frente, praticamente apagando o bloco macronista”, disse. Ela instou seus apoiadores a garantir que Bardella se torne o próximo primeiro-ministro.

Figuras de extrema direita de toda a Europa parabenizaram o RN. Ao mesmo tempo, milhares de franceses participaram de manifestações de rua contra a extrema direita.

A decisão de Macron de realizar a eleição agora, apenas quatro semanas antes dos Jogos Olímpicos de Paris, surpreendeu a muitos na França, incluindo seu próprio primeiro-ministro, que foi mantido no escuro. Essa decisão refletiu um estilo de governança impositivo que deixou o presidente exposto e mais isolado. Macron estava convencido de que era seu dever democrático testar o sentimento francês nas urnas.

Referendo

De muitas maneiras, a votação de ontem foi um referendo sobre Macron, que fundou um movimento à sua própria imagem e virou a política francesa de cabeça para baixo quando se tornou o primeiro presidente moderno eleito de fora dos partidos de centro-esquerda e centro-direita que dominaram a política francesa por décadas. Mas ele acabou se tornando um líder extremamente impopular.

Na preparação para a eleição, Macron chegou a mencionar o risco de uma potencial “guerra civil” ao pedir aos eleitores para não votar no que ele chamou de “extremos” – o RN, com sua visão anti-imigração, e os radicais de esquerda, com suas bandeiras antissemitas.

Mas os apelos caíram em ouvidos moucos porque, apesar de todas as suas realizações, incluindo a redução do desemprego, Macron pareceu ter perdido o contato com as pessoas a quem o RN apelava, que se sentiam menosprezadas por ele.

Procurando uma maneira de expressar sua raiva, elas se agarraram ao partido que dizia que os imigrantes eram o problema, apesar de uma França envelhecida precisar dessa força de trabalho.

Renascimento

A ascensão do RN tem sido constante. Fundado há mais de meio século como Frente Nacional pelo pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, e por Pierre Bosquet, que foi membro de uma divisão francesa da Waffen-SS, a tropa de elite do regime nazista, durante a 2.ª Guerra, o partido enfrentou por décadas uma barreira contra sua ascensão ao poder.

O governo colaboracionista de Vichy durante a 2ª Guerra deportou mais de 72 mil judeus para a morte e a França estava determinada a nunca mais experimentar um governo nacionalista de extrema direita.

Le Pen expulsou seu pai do partido em 2015 depois que ele insistiu que as câmaras de gás nazistas eram um “detalhe da história”. Ela renomeou o partido e abandonou algumas de suas posições mais extremas, incluindo uma pressão para deixar a União Europeia.

Funcionou, mesmo que certos princípios permanecessem inalterados, incluindo o nacionalismo eurocético do partido. Também permaneceu inalterada sua prontidão para discriminar entre residentes estrangeiros e cidadãos franceses.

Macron, que deve deixar o cargo em 2027, poderá passar a ser lembrado como o presidente que permitiu que a extrema direita alcançasse os mais altos cargos do governo francês. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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