Opinião

Um beijo no coração de todos que desejaram boa sorte


Domingo, dia 27 de novembro. Florianópolis. Com um gol de Liédson, o meu Corinthians vence o Figueirense por 1 a 0 e pode se tornar pentacampeão brasileiro com uma rodada de antecedência. Assim que o juiz apita o final da partida, posto em meu Facebook: “Timão, Timão, Timão, Timão, Timão. 5 vezes Corinthians”. No Rio de Janeiro, naquele instante, Vasco e Fluminense empatam em 1 a 1, resultado que garante o título.


Pouco mais de um minuto depois, o time cruzmaltino – numa entregada tricolor – faz 2 a 1 e adia por uma semana a conquista corinthiana. Mas, naquele momento, meu post já estava lá, público, pronto para ser massacrado por algumas dezenas de amigos que, torcedores de outras equipes, aproveitaram para tirar um sarro deste torcedor, o único paulista com chances reais de ser campeão, ainda líder do Brasileirão e praticamente com as duas mãos na taça.


Natural esse tipo de provocação nas redes sociais. Aliás, passei o Brasileirão inteiro fazendo isso, transmitindo em tempo real para os amigos minhas impressões ao longo de cada partida. Foi um tal de “xingar” o juiz, comemorar gols, lamentar resultados adversos. Não seria diferente naquele dia contra o Figueirense. Em resposta a meus amigos, postei mais tarde que aquela manifestação era puro sentimento. Tinha comigo que o título havia sido apenas adiado, contra uma saraivada de coisas do tipo: “não comemore antes da hora”, “semana que vem vai ter de se retratar” etc etc.


Domingo, 4 de dezembro. São Paulo. O Corinthians entra em campo para conquistar o Brasileirão contra o arquirrival Palmeiras. Além do título, quase uma obrigação para o time que até ali já havia liderado 26 rodadas, os 11 alvinegros tinham o dever de prestar uma grande homenagem a Sócrates, o Doutor que havia partido para o andar de cima poucas horas antes. Pacaembu lotado de preto e branco. Nem luto nem paz. Apenas cores da bandeira que carregamos em nossos corações.


Como toda conquista do Timão, essa foi sofrida até o último instante. Talvez a bola na trave de nosso goleiro Júlio César tenha sido o momento de maior estresse. Nem quando o Vasco fez 1 a 0 no Flamengo, no Rio de Janeiro, o frio na espinha foi tão dolorido. Mas a bola não entrou. Deu a lógica. Deu Corinthians em um 0 a 0 mais comemorado que os 5 a 0 que fizemos no freguês São Paulo ainda no primeiro turno. Vibração total.


No Facebook, minha última mensagem do domingo: “Ah, àqueles que disseram que eu comemorei antes da hora na semana passada, um beijo no coração. TIMAO É PENTA. 5 X CORINTHIANS”. Apenas um amigo de verdade se redimiu. Coisas da vida.


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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