Mundo das Palavras

Um brasileiro em Hollywood

Qualquer pessoa hoje pode ver no espaço Olhos d´Água, do Facebook um personagem importante da História da Cultura do Brasi, mas ignorado até mesmo por quem se dedica em nosso país à pesquisa profissional acadêmica: o brasileiro que atuou em filmes mudos, no período de glória de Valentino, a maior galã daquele período inicial da produção cinematográfica de Hollywood.
 
Fotos de Synésio Mariano de Aguiar, cujo nome artístico era Syn de Conde, foram postadas neste espaço da internet por um jovem cineasta, Eduardo Souza, que se dedicou durante 10 anos a um exaustivo trabalho de pesquisa para poder contar o que ele chama de “pré-cinema no Brasil” no documentário “Olhos d´Água – Da Lanterna Mágica ao Cinematographo”, a ser lançado ainda neste final de ano. Para reconstituir a trajetória de Syn de Conde, Eduardo contou com o apoio de um casal há meio século mergulhado nos estudos do passado do Cinema, o médico Pedro Veriano e a professor Luzia Miranda Álvares. 
 
É ela quem conta quem foi este brasileiro num dos artigos com os quais, junto com seu marido, procura há vários anos incluir Syn de Conde no rol das preciosidades do nosso patrimônio cultural. Escreveu Luzia:  “Synésio era filho de um industrial paraense. No inicio do século passado, quando a fase da exploração da borracha nativa ainda deixava um pouco do seu lastro de ouro na sociedade local, o jovem seguiu a praxe das grandes famílias, sendo mandado para a Europa concluir os seus estudos básicos.
 
Na Suíça fixou residência e por lá recebia regularmente a mesada paterna, escrevendo-lhes para contar seu aproveitamento no estabelecimento de ensino. Mas o irrequieto Synésio tinha outras pretensões. Embarcou para a América do Norte e passou a residir na Califórnia, especificamente em Hollywood, onde arranjou um quarto de pensão, dividindo a despesa de aluguel com outro estrangeiro, o italiano Rodolfo Valentino.
 
Por suposto, influenciado por Valentino, o paraense passou a se exibir como dançarino de tango nas boates elegantes.Entrementes, tentou se envolver com uma garota em um restaurante escrevendo-lhe um bilhete. Como resposta, a jovem referiu o seu endereço e o telefone. Tratava-se da atriz Alah Nazimova que mais tarde seria a namorada efetiva de Valentino. Através dela, o paraense conheceu um estúdio de cinema e ao presenciar uma cena onde dançavam um tango, disse ao diretor que faria melhor, demonstrando na ocasião esta qualidade.
 
Dessa forma, foi aceito como coadjuvante do filme em produção e daí em diante passou a figurar em produções “classe A”, atuando em oito filmes durante 2 anos…De acordo com as referências extraídas do New York Times, em 1921, De Conde passou a residir em Nova York, na 118 West Seventy-Second Street. Em 1927 ele retornou ao Brasil, via Rio de Janeiro… Em 1928, já em Belém, o ousado ex-estudante acomodou-se como professor de inglês”. 
 
Somente em 1972, Syn de Conde foi reconhecido, graças ao marido de Luzia, que como médico e pesquisador de Cinema se tornou amigo dele. Àquela altura era apenas um homem idoso, doente, que habitava um sobrado herdado de sua família. 
 

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