Um dia depois dos ataques do Irã contra os vizinhos Paquistão e Iraque, além de Síria, o ministro da Defesa iraniano, Mohammad Reza Ashtiani, declarou nesta quarta-feira, 17, que seu país não terá qualquer limite na utilização de mísseis contra seus inimigos, se for necessário. O governo paquistanês expulsou o embaixador iraniano e prometeu responder aos bombardeios.
Os ataques iranianos foram uma retaliação a grupos sunitas que estariam por trás de um atentado no Irã, de maioria xiita, no começo do ano. As operações militares ocorrem também em meio à tensão entre Israel e grupos apoiados por Teerã, como o Hezbollah, no Líbano, e os houthis, no Iêmen, no contexto da guerra contra o Hamas em Gaza. "Somos uma potência de mísseis", disse o ministro. "Se quiserem ameaçar o Irã, reagiremos, e essa reação será proporcional, dura e decisiva."
<b>Crise diplomática</b>
O Irã demonstrou disposição de usar seu poderio militar com bombardeios consecutivos à Síria, na segunda-feira, e ao Iraque e ao Paquistão, um dia depois. Como resposta, o porta-voz da chancelaria paquistanesa, Mumtaz Zahra Baloch, disse que Islamabad expulsou o embaixador iraniano, que estava em Teerã quando ocorreu o ataque.
O chanceler paquistanês, Jalil Abbas Jilani, falou por telefone com seu colega iraniano, Hossein Amir Abdollahian. Durante a conversa, Jilani afirmou que o ataque "não apenas foi uma grave violação da soberania do Paquistão, mas uma violação flagrante do direito internacional e do espírito das relações bilaterais".
Em reportagens nos meios de comunicação estatais, depois retiradas sem explicação, o Irã afirmou que tinha como alvo bases do Jaish al-Adl, o Exército da Justiça, grupo sunita fundado em 2012 que opera principalmente do outro lado da fronteira com o Paquistão. O grupo, que luta pela independência do Baluchistão (a maior província do Paquistão), é classificado pelos EUA e pelo Irã como terrorista.
Seis drones e foguetes armados com bombas atingiram casas que os militantes dizem que abrigavam crianças e mulheres dos combatentes. O Jaish al-Adl afirmou que o ataque matou duas crianças.
Um alto funcionário da segurança paquistanesa, falando à agência Associated Press sob condição de anonimato, afirmou que o Irã não compartilhou nenhuma informação antes do ataque.
O Irã conduziu bombardeios também no Iraque e na Síria. O alvo sírio foi a Província de Idlib, que não é controlada pelo presidente, Bashar Assad, um aliado próximo do regime iraniano, mas é controlada por um grupo de oposição.
<b>Força</b>
Teerã afirmou ainda que os ataques no Curdistão iraquiano eram contra Israel, acusado de operar um posto avançado de espionagem no local. As autoridades no Iraque rejeitaram a acusação e o país retirou seu embaixador em Teerã em protesto.
Analistas dizem que o Irã está caminhando em uma linha tênue, esperando exibir força e mostrar aos conservadores, que apoiam o regime, que pode atingir seus inimigos sem se envolver em uma luta com Israel ou EUA. Sanam Vakil, especialista da Chatham House, disse que o Irã tentou exportar seus conflitos, mas se descuidou deles internamente. "A grande ironia é que estar presente além de suas fronteiras atraiu riscos de segurança para dentro do Irã", disse. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>