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Um dos gurus do Novo Jornalismo, Tom Wolfe deixa uma escrita iluminada

O escritor Tom Wolfe morreu na segunda, 14, em Nova York, aos 88 anos. O autor do best-seller A Fogueira das Vaidades estava internado tratando uma infecção num hospital de Manhattan, onde morava. Além de romancista, Wolfe era um expoente do movimento Novo Jornalismo, cujo nome ele cunhou, num ensaio na revista New York, em 1972 (foto abaixo). Os nomes mais conhecidos do estilo que fundiu ficção e ponto de vista com jornalismo eram contemporâneos de Wolfe, como Truman Capote, Gay Talese, Hunter Thompson, Nora Ephron, Jimmy Breslin e Joan Didion.

Lembrando a amizade de mais de 50 anos, o escritor e jornalista Gay Talese disse ao jornal O Estado de S. Paulo que Wolfe continuava escrevendo todo dia. Os dois se conheceram na redação do extinto New York Herald Tribune, em 1962. “Quer fosse não ficção ou ficção, Wolfe criou um caminho com palavras, uma sensação visual de lugar e tempo, que ninguém poderia igualar. Ele era verdadeiramente original”, disse Talese.

Antes de estrear na ficção com A Fogueira das Vaidades, em 1987, Thomas Kennerly Wolfe Jr, um sulista da Virgínia que nunca abandonou o uniforme de dândi com ternos brancos, fez sua marca no jornalismo americano. Sua especialidade era dissecar a obsessão americana com status e notar as diferenças de classe num país que, no pós-guerra, se via como uma sociedade sem classes.

Em 1963, a revista Esquire encomendou a Wolfe um artigo sobre o negócio de carros customizados na Califórnia e o resultado, publicado no livro The Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby (1965) foi o primeiro exemplo da prosa em associação livre, com frases longas e linguagem que era surpreendente no segmento respeitável e sisudo do jornalismo. Se é vantagem ser forasteiro para tomar o pulso de uma metrópole, Wolfe rapidamente se tornou o cronista mordaz da elite e do submundo de Nova York. Seu artigo These Radical Chic Evenings ocupou uma edição da revista New York em junho de 1970 e se mostrou um golpe mortal no namoro de artistas e intelectuais com o grupo dos Panteras Negras, além de cunhar a expressão “radical chique”.

A cobertura de Wolfe para a revista Rolling Stone sobre o programa espacial americano foi transformada no livro The Right Stuff, em 1979, até hoje uma narrativa essencial sobre o período. Obra teve versão no cinema com Sam Shepard, em 1983, mais bem-sucedida do que a de A Fogueira das Vaidades, com Tom Hanks, em 1990.

Em conversa com a reportagem, Paul Holdengraber, o mais importante anfitrião de saraus literários de Nova York, lembra como a nostalgia tomou conta de Tom Wolfe, numa tarde de 2016. Wolfe havia doado seu arquivo à Biblioteca Pública de Nova York, onde Holdengraber dirige a série Live! de conversas com escritores. Antes do evento, Holdengraber e Wolfe visitaram o arquivo. “Ele sentiu saudade dos tempos da grande reportagem, como quando cruzou o país de ônibus com o grupo do escritor Ken Kensey (Um Estranho no Ninho) documentando experiência com LSD, descritas no livro The Electric Kool-Aid Acid Test. No ensaio-manifesto sobre o Novo Jornalismo, Wolfe citou como marco um artigo escrito por Gay Talese um perfil do lutador Joe Louis para a revista Esquire em que Wolfe viu características de um conto literário. Curiosamente, Talese, na introdução de antologia de seus textos sobre esportes, questiona esta versão do nascimento do Novo Jornalismo. Para ele, os contos de Hemingway e F. Scott Fitzgerald já exerciam influência sobre sua escrita há décadas.

Num telefonema da redação da New York, cuja emergência é indissociável do jornalismo de Wolfe, o editor Christopher Bonanos concorda com Talese: a voz do escritor continua influenciando o estilo da revista, mas nunca é imitada.
Entre liberais, a rebeldia estilística de Wolfe causou confusão sobre um autor que era, de fato, um conservador, fã de carteirinha de Ronald Reagan e George W. Bush. Seu último livro, The Kingdom of Speech (O Reino da Fala), de 2016, questiona a Teoria da Evolução de Darwin e o teórico linguista Noam Chomsky, argumentando que a fala humana é uma ferramenta criada, não um fruto da marcha evolucionária. Aos 88 anos, o jornalista romancista continuava disposto a comprar brigas intelectuais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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