Variedades

Um grande roubo e pequenas corrupções

O roubo milionário de joias de famílias tradicionais paulistanas que estavam em cofres particulares do banco Itaú, na Avenida Paulista, em agosto de 2011, foi o fio narrativo escolhido pelo jornalista Artur Rodrigues, 35, para se infiltrar na rotina do crime desorganizado no livro Aqui é o Crime, seu segundo romance.

A ação de fato ocorreu e a ousadia dos envolvidos mobilizou as editorias que cobrem a cidade nos jornais da capital. O autor, que foi repórter do caderno Metrópole no Estado e atualmente está em Cotidiano, na Folha de S.Paulo, conhece bem o riscado.

O roubo, porém, foi apenas uma inspiração. Rodrigues precisava de uma liga para embalar a imersão no mosaico de personagens marginais que compõem a obra.

Um jornalista veterano e alcoólatra que não suporta receber ordens de um chefe jovem e arrogante, um policial com ambições políticas e esqueletos no armário, um segurança noturno que conta o pouco dinheiro que tem para comprar um presente à mulher, que o trai.

Aqui é o Crime não conta a história de um crime, mas das muitas pequenas corrupções de cada dia. A maior inspiração de Rodrigues para se aventurar na ficção foi, segundo o próprio, o escritor e dramaturgo Plínio Marcos, um dos primeiros a retratar a vida dos submundos de São Paulo.

Só que, em vez do centro paulistano, cenário favorito de Plínio, o repórter cresceu em Arthur Alvim, na periferia da Zona Leste, nos anos 90. Ouvia Racionais Mc enquanto via, de rabo de olho, seus amigos de rua entrarem no tráfico. Muitos morreram.

Quem começa a ler Aqui é o Crime vai até o fim das 129 páginas. Os capítulos são curtos, contundentes e viscerais. Não há gordura. O papo é reto, preto no branco.

Enquanto muitos escritores na casa dos 30 anos fizeram fama falando dos dilemas de classe média à partir dos bares da Vila Madalena, Artur Rodrigues preferiu os manos e minas de Parelheiros a Guaianases. Porque, como costumavam dizer Antonio Abujamra e Consuelo de Castro, a vida é trânsito, é dia útil. Não é domingo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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