Estadão

Um mês após começar a voar, aérea da Itapemirim já atrasa benefício e salário

Quarenta dias após o início de suas operações, a companhia aérea ITA já enfrenta uma série de descontentamentos entre seus tripulantes – o que levou o Sindicato Nacional dos Aeronautas a convocar uma reunião para sexta-feira para discutir a situação dos trabalhadores. Atrasos no pagamento do salário e de benefícios, além da falta de comunicação interna, estão entre as reclamações.

De acordo com profissionais ouvidos sob condição de anonimato, o vale-alimentação e as diárias não estão sendo pagos em dia. Os atrasos chegavam a três meses, mas, ontem, os valores foram quitados. O pagamento dos salários também tem sido feito com atrasos de dois a cinco dias. Segundo a empresa, no entanto, houve problema apenas neste mês, em decorrência de uma dificuldade técnica para centralizar os pagamentos em um único banco.

Parte do grupo de transporte rodoviário Itapemirim – que está em recuperação judicial -, a ITA começou a operar em 1.º de julho, com quatro meses de atraso em relação ao cronograma inicial. A companhia afirma que a covid-19 retardou o envio de aeronaves que estavam no exterior para o Brasil.

A intenção da ITA era ter frota de dez aviões neste ano, mas, por enquanto, apenas quatro aeronaves estão voando. Com isso, grande parte dos tripulantes contratados nos primeiros dias do ano ainda está em casa. Sem voar, eles não recebem a parcela variável do salário, que costuma ficar entre 40% e 70% da remuneração total.

Há relatos de que os profissionais não sabem ainda nem qual é a remuneração variável. No contrato de trabalho, há apenas uma referência de que a parcela variável seguirá a política de remuneração da empresa.

Como os funcionários que já começaram a voar receberam a remuneração variável referente a este mês apenas ontem – é praxe do setor que haja esse prazo entre a realização dos voos e o pagamento pelas horas voadas -, ainda há certa confusão em relação ao valor exato que a companhia está pagando, segundo apurou o <b>Estadão</b>.

Um profissional afirmou que muitos aeronautas aceitaram trabalhar na companhia mesmo sem saber a remuneração total porque o desemprego está alto no setor. No ano passado, com a crise da covid, a Latam demitiu 2,7 mil tripulantes e, em 2019, a Avianca Brasil faliu, deixando centenas de profissionais sem trabalho.

Ainda segundo fontes ouvidas pela reportagem, a comunicação entre a direção da empresa e os funcionários é deficiente. Profissionais tentam falar com superiores para entender os atrasos, mas não têm retorno.

Outro fato que causa estranheza entre os trabalhadores é que, algumas vezes, os pagamentos são feitos por PIX de empresas que fazem parte do grupo, como Viação Itapemirim e Viação Caiçara, mas não pela ITA. Segundo a diretora de marketing, Daniela Rocha Silva, todas essas transações são devidamente registradas no balanço da holding Itapemirim.

Daniela diz ainda que o descontentamento dos funcionários decorre do fato de muitos não estarem voando. Ela destaca que, assim que as aeronaves previstas chegarem, esses trabalhadores vão começar a operar e que a empresa decidiu mantê-los para não perdê-los para a concorrência.

A criação e a operação da companhia aérea já consumiram R$ 42,5 milhões do grupo Itapemirim, de acordo com um documento publicado pela empresa que acompanha o processo de recuperação judicial, a EXM Partners. Esse gasto também gera polêmicas no mercado. Um relatório de julho feito pela EXM afirma que, "apesar da insistência desta administradora judicial, alegando sigilo de mercado, o grupo Itapemirim não forneceu maiores detalhes sobre tais investimentos".

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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