Variedades

Um Oscar conciliador

Entre ser ousada em suas escolhas ou se contentar com alguns feitos históricos, a Academia de Hollywood preferiu a segunda opção ao premiar como melhor filme do ano um longa modesto e popular como Green Book – O Guia. Segundo especialistas, ambiciosa seria a eleição de Roma, que se tornaria a primeira produção não falada em inglês e financiada por uma empresa não tradicional no cinema (Netflix) a ganhar tal honraria. Ou mesmo optar por Pantera Negra (filme inspirado em HQ e politicamente consciente) ou Infiltrado na Klan (alegoria provocativa sobre as atuais relações raciais). “Em vez disso, a Academia concedeu seu mais prestigioso prêmio a um filme que, embora popular, é muito educado, contido e por demais focado em um protagonista branco”, observou Ann Hornaday, do jornal Washington Post. “Essa vitória sugere que os eleitores da academia, como muitos cinéfilos, são atraídos para filmes que os fazem se sentir bem consigo mesmos.”

A decepção com a escolha, aliás, se expandiu pelo Dolby Theatre, na noite de domingo, 24. No exato momento em que o filme era anunciado por Julia Roberts, o diretor Spike Lee fez um gesto de contrariedade e simulou deixar o teatro enquanto os produtores de Green Book, no palco, agradeciam. Na sala de imprensa, durante uma entrevista coletiva, os mesmos produtores buscavam valorizar a conquista. “Estávamos, sim, confiantes na vitória, apesar de todas as opiniões contrárias”, defendeu o diretor Peter Farrelly, relembrando o que dissera momentos antes, no palco. “O filme é sobre como amar uns aos outros, apesar das diferenças.”

Se aparentemente falhou na escolha de seu principal prêmio, a Academia foi progressista em outras, que se revelaram notavelmente inclusivas ao eleger vencedores vindos de diversos países e com diferentes origens étnicas. Hannah Beachler, vitoriosa por Pantera Negra na categoria design de produção, apontava um dado positivo. “Senti uma mudança hoje (domingo), pois vi muitas mulheres e mulheres negras no palco segurando seus Oscars. Ruth Carter (melhor figurino, por Pantera Negra), eu, Regina King (atriz coadjuvante, por Se a Rua Beale Falasse) – isso é muito bom”, disse ela, já na tradicional festa da Academia.

Outra boa indicação foi premiar interpretações de personagens homossexuais, como a rainha Anne (vivida por Olivia Colman, em A Favorita) e Freddie Mercury (por Rami Malek, em Bohemian Rhapsody). E, enquanto Olivia não saía de seu estado catatônico, Malek estava emocionado. “Fizemos um filme sobre um homem gay, um imigrante que viveu sem pedir desculpas”, disse Malek, que chegou a passar mal e foi atendido por médicos. “Esperamos por histórias como esta. Sou filho de imigrantes do Egito. Sou americano de primeira geração e parte da minha história está sendo escrita agora.”
Finalmente, o mexicano Alfonso Cuarón, vencedor de três Oscars (direção, fotografia e filme estrangeiro) por Roma. “Importante foi a Academia abraçar um filme sobre uma empregada doméstica que também é uma índia e não tem direitos. Fala-se muito sobre diversidade no mundo e realmente tivemos progresso nesse assunto, mas essas pessoas ainda continuam mal representadas.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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