Mundo das Palavras

Um precursor de Trump e Bolsonaro

A pregação do anti-humanismo mostrou-se eficiente na campanha eleitoral de Donald Trump. Ele chegou à presidência dos EUA após, como é sabido, acusar o México de enviar drogas e estupradores, entre diversos tipos de criminosos, para seu país. Zombar de um jornalista deficiente físico. E sustentar que havia sido questionado pela apresentadora de telejornalismo Megyn Kelly com sangue saindo dos olhos e da vagina dela. Instalado na Casa Branca, Trump mantem o tom. Recentemente ameaçou a Coréia do Norte com “um mar de fogo inimaginável”, e, fez afirmações ambíguas diante de atos de violência racista no estado da Virgínia. 
 
No Brasil, declarações semelhantes alçaram Jair Bolsonaro à condição de segundo nome mais cotado entre possíveis candidatos à presidência da República. Em sua longa carreira de deputado federal, ele já lamentou o fato de o ditador chileno Augusto Pinochet ter matado “pouca” gente. Criticou a Polícia Militar de São Paulo por ter executado 111 presos, na Penitenciária do Carandiru, quando, segundo ele, deveria ter exterminado 1.000. Pediu paciência para a morte dos inocentes, inevitável na guerra civil que terá de ocorrer, na avaliação dele, para que nosso país seja pacificado. Quando, acredita, morrerão cerca de 30 mil pessoas. 
 
Assim, nos dois países, se repete, com o mesmo sucesso, o que ocorreu, no passado, entre os espanhóis. Quando José Millán Astray Terreros criou um corpo de voluntários estrangueiros, a Legião Espanhola, com o lema “Viva a morte”. Seu objetivo: manter colonizadas porções do Norte da África.
 
Astray foi a pessoa com maior influência na formação moral e ideológica de Francisco Franco. (Em cujo ombro direito ele pousa sua mão, na foto postada junto com este texto). O ditador fascista estava impregnado desta influência, na década seguinte, quando venceu a Guerra Civil Espanhola, diz Paul Preston, em “Franco, a biografia”. 
 
Os pesquisadores David Woolman e Abd el Krim tentaram encontrar a origem do culto à violência e à morte em Astray. Concluíram que poderia estar numa desonra familiar, que ele tentava apagar. Seu pai fora um diretor de prisão corrupto, em Madri. 
 
Outra complicação familiar, possivelmente ligada ao comportamento de Astray foi lembrada por Peregrina Astray, parenta dele, numa entrevista publicada por El Figaro, em janeiro de 1995. Segundo o jornal, só quando terminou sua festa de casamento, Astray, então, um capitão de 27 anos, foi surpreendido com uma decisão de sua esposa, Elvira Gutiérrez de la Torre. Ela lhe comunicou que iria se  manter virgem pela vida toda. Os dois permaneceram juntos, numa relação "fraternal", na qual Elvira o ajudou a se manter no papel de “grande homem”, que ele havia imaginado para si.
 
Astray morreu aos 75 anos de idade, no posto de general de brigada. Conhecido por sua crueldade e intolerância, tinha também, no corpo, marcas da violência que pregara. Perdera o braço esquerdo. E o olho direito. 
 

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