A preocupante contaminação de milhares de pessoas pela bacteria Escherichia coli e a ocorrência de dezenas de mortes, no Hemisfério Norte, suscita urgente reflexão sobre a campanha que se faz no Brasil contra a utilização de sacolas de plástico. Como se sabe, elas têm sido o bode expiatório do meio ambiente, dentre todos os resíduos sólidos, antes mesmo de se aplicar a nova legislação federal sobre o tema. Leis restritivas são aprovadas em estados e municípios, à revelia da Constituição, e se celebram acordos para extingui-las. Contudo, de modo comprovado, elas são as embalagens mais higiênicas para o transporte de alimentos.
Em junho de 2010, conclusivo estudo da Universidade do Arizona (EUA) referendou os alertas que já vínhamos fazendo quanto ao perigo de contaminações cruzadas pela E. Coli em sacolas retornáveis de supermercados. Não se pode afirmar ser essa a causa da atual epidemia, que já afetou 13 países europeus, os Estados Unidos e o Canadá. Contudo, considerando a constatação científica anterior, não se deve correr qualquer risco. Afinal, estamos falando de saúde pública e vidas humanas.
Referindo-se àquele estudo, Charles Gerba, professor de Ciências Ambientais na Universidade do Arizona e coautor do trabalho, foi taxativo: “Os resultados sugerem uma ameaça séria à saúde pública, especialmente por bactérias coliforms, como a E. coli, detectadas nas sacolas analisadas”. Assim, é fundamental rever a campanha e as legislações inconstitucionais que se têm voltado contra as sacolas de plastico no Brasil. Reutilizáveis, dentre outras aplicações, no acondicionamento do lixo domestico, seu uso correto deve ser objeto de educação ambiental e campanhas de orientação, como se prevê para todos os itens abrangidos pela nova Lei dos Resíduos Sólidos.
Não é correto e justo que, embora o estudo norte-americano fosse bastante conhecido em nosso país desde o ano passado, associações de supermercados, aliadas a alguns governantes e parlamentares, tentem impor à sociedade as sacolas retornáveis, suscetíveis à contaminação e a serem pagas pelos consumidores. A gravidade do problema está evidente na epidemia ocorrida no Hemisfério Norte. É inadmissível colocar em risco a saúde pública. Portanto, é prudente rediscutir o assunto no Brasil, antes que ocorra mal maior.
Não se pode ser irresponsável ante um perigo amplamente conhecido. Desde meus tempos de aluno de Química Industrial essa questão gerava preocupações. À época, já me chamava a atenção a agressividade da E. coli. Quando estagiário de uma empresa de laticínios, analisava com todo o cuidado a contagem das colônias desse microorganismo, presentes nos produtos. Será que os supermercados desconhecem um tema corriqueiro até mesmo para estudantes? O pior é que a população é que pagará (literalmente) para ver…
Alfredo Schmitt é empresário e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (ABIEF).