No meio destas matérias, estavam estas sete manchetes: 1ª) “Mortos vão a 4: Coréia do Sul acha dois corpos de civis em ilha”; 2ª) “Nasce bebê de Travolta, após morte de filho”; 3ª) “Nova Zelândia anuncia mortes de 29 mineiros”; 4ª) “Mortes vão a 456, após tumulto no Camboja”; 5ª) “São Paulo: garota que namorava escondida é espancada pelos pais e morre em SP”; 6ª) “Bebê de 6 meses morre, após tomar vacina em Goiana”; 7ª) “Polícia investiga se corpo achado nos EUA caiu de avião”.
Para o portal, obviamente, a morte é notícia, em qualquer lugar, ainda que isto contrarie um antigo dogma do Jornalismo. Aquele segundo o qual o interesse do leitor por um acontecimento se reduz na mesma proporção em que se distancia o local onde ele ocorreu. Assim, nós dedicaríamos atenção maior a uma briga entre dois moradores de nossa vizinhança do que à tragédia com duzentas vítimas, num local remoto. No entanto, no portal, as informações sobre mortes
A morte tem presença avassaladora não só no portal da Globo. No mesmo dia, outra mídia – um jornal impresso –, a Folha de São Paulo, trouxe a notícia sobre o Camboja, com uma única diferença relativa ao número de vítimas. Nesta edição, o jornal ainda publicou a lista de falecimentos ocorridos,
A veiculação desta lista nos veículos de comunicação já mostra que a morte é vista como uma espécie de grande acontecimento, independentemente da importância social de quem é atingida por ela. Para muitas pessoas – infelizmente – o único ocorrido em suas existências capaz de interessar a um jornal.
É evidente que, no tipo de sociedade na qual vivemos, a morte se torna notícia porque embora seja o mais previsível acontecimento da trajetória humana, permanece como algo quase inaceitável – por isto, muitas vezes, chocante – devido ao modo sempre abrupto como irrompe em nossa rotina. O que lança luz sobre o quanto procurarmos nos afastar de nossa condição natural. E, o pior: sobre o quando nos iludimos com a esperança de conseguir realizar esta façanha.
É inacreditável, mas precisamos nos reeducar para podermos conviver com uma realidade inscrita em nosso corpo, desde o nascimento: a de que somos mortais. Se precisamos disto, é porque fomos educados para ignorá-la.
Desta reeducação Maria Júlia Kovács tratou num artigo escrito há cinco anos para a revista Psicologia, Ciência e Profissão. Seu título: “Educação para a morte”. Nele, Júlia afirmou: “Freqüentamos escolas por mais de vinte anos de nossa existência, e, assim nos preparamos para a vida social; da mesma forma, deveríamos, também, nos preparar, pelos mesmos vinte anos, para o fim de nossa existência”. Júlia, informa o site Thanatos, ainda continua empenhada em nos reeducar.
OswaldoCoimbraé jornalista e pós-doutor em Jornalismo pelaECA/USP