Mundo das Palavras

Uma brasileira exuberante

 Não há quem não goste de ser observado por alguém cuja opinião valorize. Naquilo que somos – ou naquilo que fazemos de nós – há sempre uma margem de dúvida. E, se respeitamos o ponto de vista de uma pessoa – ou por gostarmos do modo como ela enxerga os seres humanos, ou por querermos ser aceitos por ela – ficamos grato quando merecemos sua atenção. O que significa que não apenas temos dúvidas em relação àquilo que fazemos de nós mesmos, no pequeno espaço de liberdade de auto-criação que nos resta, em meio às circunstâncias irremovíveis à nossa volta, com suas imposições inapeláveis. Também temos consciência de que, segundo critérios, para nós, respeitáveis, podemos corrigir, retificar, melhorar, em suma, a obra que construimos em nós mesmos. É por carregar uma promessa de observação de outra pessoa que, no velho adágio “Diz-me com quem andas e eu te direi quem és”, fica amenizada a dura  advertência implícita: “Escolhe bem com quem vais conviver”


Este campo de observação das pessoas – e de auto-observação através de outro olhar -, é, obviamente, essencial para a auto-criação, e, para o convívio humano, em geral. Assim como, em particular, para a criação literária, a prática jornalística, a reflexão filosófica, e, o ofício de psicológico.


Foi neste campo que a entrevista concedida por Viviane Mosé a Roberto D´Ávila, no programa Conexão Internacional, postada na internet, propiciou um mergulho. No programa, o entrevistador experiente, estratégicamente, se limitou a fazer intervenções rápidas e bem pontuadas  a fim de abrir espaço à exuberância de Viviane, que, logo mostrou potencial como  entrevistada. Por seu lado, Viviane reagiu à participação correta e discreta de Roberto dedicando uma  atenção concentrada ao que ele dizia. Registrou tudo o que veio dele, se detendo nas suas perguntas, para ampliá-las, aprofundá-las, valorizá-las, enfim.  


Neste delicado jogo de observação – da outra pessoa e de si mesmo -, estabelecido entre os dois, Viviane pôde se mostrar “llena de gracia”. Sequer precisou se apoiar no seus títulos acadêmicos. Afinal, com os mesmos títulos, há quem se revele pernóstico, distante, superior, antipático. Já Viviane falou – sobretudo, de Filosofia, uma de suas áreas de atividades -, com animação e prazer. Não explanou. Manifestou-se como quem conta algo que descobriu e quer repartir. Deste modo, conseguiu reproduzir suas leituras de obras densas, dando-lhes carne e vida, como se tirasse da própria vivência o que dizem os livros.


Ao longo de todo o programa, as respostas de Viviane tiveram um calor de fala entre amigos ou parente, um tom aconchegante que anulou completamente o ranço excessivamente cerebral de muitos estudos de Filosofia. Assim, ela deixou transparecer que Filosofia pode se tornar um campo, generoso e atraente, de desfrute de prazer intelectual.  


Ao assistirmos o desempenho de Viviane no programa percebemos que, no caso dela, aquele velho adágio poderia ser reescrito para ficar assim: “Diz-me como falas, e, eu te direi quem és”.


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP

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