Variedades

Uma grande cena para compensar o mar de dúvidas

Antes mesmo de entrar em cartaz – na quinta, 7, mas muitas salas já estarão apresentando o filme na quarta -, Polícia Federal – A Lei É para Todos já está provocando polêmica. De cara, o diretor Marcelo Antunez e seu elenco já sabiam que poderiam ser atropelados no embate entre esquerda e direita, coxinhas e petralhas. Gente que ainda nem viu o filme o acusa de parcialidade, etc. Faz parte, mas a polêmica de verdade está vindo de outras partes. O Sindicato dos Advogados de São Paulo está querendo levantar na Justiça o sigilo sobre os patrocinadores, sob a alegação de que o filme faz juízos definitivos sobre matérias não julgadas.

Há até a suspeita de que o filme quer influenciar a eleição de 2018, acusação similar à que foi feita a Lula, o Filho do Brasil em 2010. O longa de Fábio Barreto sobre o ex-presidente tentava influenciar a eleição de Dilma Rousseff. Não apenas – a Federação Nacional dos Policiais Federais acusa o filme de exagerar na propaganda dos procuradores, e a associação desses últimos, a ADPF, já reagiu de forma incisiva. Nas redes sociais, o bate-boca corre solto.

Se tudo isso se refletir em bilheteria, o diretor Marcelo Antunez estará acrescentando novo triunfo à sua curta carreira. Triunfo de público, acrescente-se, porque é pouco provável que Polícia Federal venha a se constituir também num sucesso de crítica. O filme é bem feito, há que reconhecer. Tem boas perseguições e chega a criar certo suspense, mas prende-se a receitas narrativas de Hollywood. Clichês, como se costuma dizer.

Na coletiva, se não abriu os patrocinadores, Antunez abriu suas influências, e a maior delas talvez tenha sido Spotlight – Segredos Revelados, que venceu o Oscar de melhor filme no ano passado.
Antunez diz que não fez um filme contra o PT nem contra Lula. Fez um filme sobre a Lava-Jato. Certas escolhas, contudo, apontam para a parcialidade que ele nega. Os policiais federais – os procuradores – são meio “intocáveis”, na vertente de Brian De Palma.

Ary Fontoura como Lula soa caricatural. O juiz Moro, na interpretação de Marcelo Serrado, parece o múmia de Tom Cruise. Mas existem coisas irrefutáveis, e até boas, muito boas, no filme. A tese é que a corrupção no Brasil existe desde que foi inventada a caneta, e até antes. É um mal endêmico, como a saúva. A Lava-Jato, como operação de combate à corrupção, é necessária. O que seus críticos levantam é que pode estar se transformando numa ameaça à democracia. Tem até livro sobre isso.

E a Lava-Jato, por isso mesmo, dividiu a sociedade brasileira. O filme tenta dar conta dessa divisão em sua melhor cena. Júlio é um dos procuradores da força-tarefa. Discute com o pai petista, em pleno almoço. O pai diz que o filho, a força-tarefa, é parcial. O filho brada – “Pai, eu votei neles. Fiz campanha, lembra?” É um momento pungente. Tem a ver com a excelência dos atores, Bruce Gomlevsky e Genézio de Barros. Esses fragmentos humanos são o que o filme tem de mais forte. Com menos clichês e mais veracidade, seria melhor. A palavra agora é com o público.

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