Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutor Oswaldo Coimbra
​As matanças que ocorrem nas prisões brasileiras nos espantam e incomodam por sua brutal selvageria, pois, gostaríamos de poder supor que todas as pessoas se humanizam através da Educação, recebida na familiar e na escola, ao longo da História das Civilizações. São episódios que, no entanto, mostram a permanência em seres humanos de uma ferocidade supostamente encontrada apenas em animais irracionais, manifestada nas terríveis condições das prisões brasileiras. As quais, dotadas de ambiente e temperatura ideais para o florescimento do que exista de pior num ser humano, dispensam a brasileiros, já excluídos do convívio social civilizado desde que nascem, tratamento reservado a bichos desprezíveis.
​Desgraçadamente, porém, tal ferocidade emerge também em pessoas educadas, com padrões de vida elevados, como revelam as guerras e os conflitos armados incessantemente travados nos dias atuais até entre países de cultura milenar. Ela se tornou chocante, há algumas décadas, no ataque sofrido pela população de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola, nos campos de concentração nazistas, nos bombardeios atômicos por norte-americanos às cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial. Terríveis momentos aqueles, a pontuar a História das Civilizações com comportamentos desumanizados assumidos por grupos sociais que haviam se beneficiado dos avanços das ciências conquistados pela Humanidade.
​Um destes momentos, hoje, infelizmente, está esquecido. Ocorreu em 1942, após o Brasil declarar guerra aos países então dominados por regimes nazifascistas: Alemanha, Japão e Itália. Às 9 horas da noite do dia 22 de setembro daquele ano, o submarino alemão U-516, comandado pelo capitão tenente Gerhard Wiebe atacou um pacífico navio mercantil brasileiro que navegava no litoral da Guiana Francesa, o “Antonico”. Seria apenas mais um afundamento de embarcação brasileira pelos nossos inimigos, entre os 33 casos que ocorreram na Segunda Guerra, se os 40 tripulantes do “Antonico” não tivessem conseguido sobreviver à destruição do navio, graças aos botes salva-vidas dele. A maior tragédia, contudo, aconteceu depois, quando todos estavam instalados naqueles botes. O comandante alemão mandou seus soldados metralharem a indefesa tripulação. Dezesseis brasileiros morreram, inclusive o capitão de longo curso Américo Moura Neves, comandante do “Antonico”. Mais tarde, a guerra terminou. Os nazifascistas foram derrotados, como é sabido. E o capitão-tenente Wiebe estava prisioneiro das tropas aliadas vitoriosas. No Brasil, teve início, então, um movimento que reivindicava a condenação de Wiebe pelo Tribunal de Nuremberg. O tribunal julgou crimes de guerra como aquele que ele tinha cometido. Mas a iniciativa não prosperou.
​Vê-se, assim, que os bandidos de Pedrinhas não inauguraram a longa e triste sequência de infâmias embutida na História, quando, há poucos dias, decapitaram seus inimigos na prisão, rindo e debochando deles.