No início dos anos 90, o ex-presidente Fernando Collor de Mello só foi deposto de seu cargo após uma grande mobilização da sociedade. Não fossem os cara-pintadas, grupos de alunos de cursos secundários e universitários, capitaneados pela então forte União Nacional dos Estudantes (UNE), que tomaram as ruas das principais cidades brasileiras, provavelmente, o desfecho daquela crise moral seria outro. Talvez o Brasil não tivesse o presidente, envolvido em corrupção afastado, nem tampouco haveria espaço para a derrubada da inflação e abertura para a posse de governos realmente democráticos (tivemos cinco eleições diretas após o impeachment).
Porém, os anos passaram e a sociedade se acomodou. Os grandes movimentos populares da década de 90 – de certa forma – foram acomodados no poder. Basta perceber que não só a UNE hoje não tem mais voz como os próprios movimentos de sem terra não empunham bandeiras que podem colocar em risco o poder federal. Tanto que o então presidente da entidade estudantil hoje é senador da Repúblico pelo PT. O MST aparece envolvido em uma série de escândalos e maracutaias que – em alguns casos – deixariam PC Farias, apontado na época de Collor como o grande caixa de campanha e responsável por tudo de errado que ocorria, com inveja.
Desta forma, não é de se estranhar que a Oposição de agora, reunida em três ou quatro legendas sem grande força tanto na Câmara como no Senado Federal, não consiga mobilizar o país. Não há movimentos sociais capazes de levar às ruas brasileiros indignados com os vários casos de corrupção já denunciados e que ainda ocupam as primeiras páginas de nossos jornais e revistas. Note-se que a “faxina ética” propagada pela presidente Dilma não toma corpo. Aliás, mesmo com nomes importantes de seu governo caindo, poucos resultados foram apresentados à sociedade.
Tanto que alguns daqueles que foram afastados já encontram assentos em outras esferas. Ninguém menciona nada em relação a devolver aos cofres públicos algo que pode ter sido desviado nesses anos todos de bandalheira. Pior é que tem muitos amigos do poder que seguem na mesma prática, sem que ocorra qualquer movimento organizado em sentido oposto. Ou seja, a desmobilização é flagrante e pode causar perdas irreparáveis a toda uma nação.