Variedades

Uma nova face do blues em três noites

O Bourbon Street Music Club, casa de blues, jazz, funk, soul e música brasileira de Moema, na zona sul de São Paulo, começa Na quarta-feira, 13 um ato de resistência: um festival de blues. Eles são cada vez menos visíveis, os festivais e as bandas de blues, mas a casa inaugurada e adotada por BB King desde que abriu as portas, em dezembro de 1993 (BB tocou onze vezes naquele palco), parece prestar um serviço público ao pai do rock.

O Blues Festival, mesmo sem patrocínio, faz um retrato interessante nas três noites espaçadas em três semanas. Na quarta, será a vez da cantora norte-americana Terrie Odabi, jovem e já em destaque em suas terras, canta tendo como base a banda Alabama Johnny. Na quarta que vem (20), a noite será do Cinelli Brothers, dois irmãos italianos radicados em Londres que serão acompanhados por um grupo brasileiro. E dia 3 de abril, o gaitista Flávio Guimarães vai se apresentar com o cantor e guitarrista Little Joe McLerran e a banda The Simi Brothers. Um guitarrista e cantor brasileiro, Gui Cicarelli, especialista em sons do lendário Stevie Ray Vaughan, será o que a direção do festival chama de host, um mestre de cerimônias para abrir as noites. Gui tem atraído um público jovem e vibrante quando faz shows na casa, uma conquista de território.

O show de hoje mostra a escola viva de Etta James na voz de Terrie. Cantora de voz cheia de vigor que nunca veio ao Brasil, ela já começa a ganhar títulos como o de diva do blues de San Francisco. O grande prêmio do meio, o Blues Music Award de 2017, a indicou em duas categorias: Melhor Artista Feminina de Soul Blues e Melhor Álbum de Artistas Emergentes. Isso tudo pelo álbum My Blue Soul, considerado um do 50 melhores de blues do ano de 2016.

Sua banda brasileira precisa trabalhar com o mesmo vigor, já que é assim que Terrie tem se dado bem em shows nos Estados Unidos. É para torcer que entre em seu set list Id Rather Go Blind, quando seu vulcão entra em atividade. Os músicos que estarão a seu lado em sua passagem pelo Brasil são Flavio Naves (piano), Fred Sunwalk (guitarra), Denilson Martins (sax), Bruno Falcão (baixo) e Fred Barley (bateria).

A noite seguinte terá o grupo italiano, que prefere ser chamado de londrino, Cinelli Brothers. Os irmãos Cinelli, jovens e bonitos, radicados em Londres, surgem também com uma base brasileira na passagem pelo Brasil. Marco Cinelli, cantor e guitarrista, encontrou uma voz que rasga as melodias do blues rock, como os vocalistas dos anos 70. Alessandro, seu irmão, é o baterista, que chega com um set de instrumento surpreendentemente simples e de pegada leve. E eis uma marca do blues rock da nova geração. Os volumes não precisam estar acima do dez para que o som chegue gordo, cheio. Não há vocais gritados nem exageros de solo. Não seria estranho classificá-los de indie blues.

Edgard Radesca, sócio do Bourbon Street e diretor do festival, é contra a ideia de que o blues esteja respirando por aparelhos. “Uma geração saiu de cena, mas há novos nomes muito interessantes. Acho Gary Clark Jr um deles.” Se apostaria em abrir uma casa voltada exclusivamente ao blues em São Paulo, Radesca diz que não. “Isso depende do tamanho da casa, na verdade. Casas maiores não podem trabalhar com um ritmo só.”

As ondas do blues se erguem de tempos em tempos, motivadas por algum revival. O que pode ser um desafio aos festivais de hoje diz respeito ao comportamento. Como fazer com que o blues passe por um processo de rejuvenescimento como tem vivido o jazz e a música instrumental no Brasil e no mundo? Como fazer com que as bandas de blues voltem a chamar público para casas médias, como nos anos 1990 e começo dos 2000? Um festival pode ser importante para isso. “Quando as atrações estão sob um guarda-chuvas de um festival, o caráter é outro”, diz Radesca. Terrie Odabi e Cinelli Brothers têm sustança para andarem sozinhos, mas juntos mostram o quanto Muddy Waters ainda tem força.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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