As turbinas da frota da Fedex, empresa americana líder em carga postal, percorrem 8 mil km para fazer sua revisão periódica na oficina da GE Celma, em Petrópolis (RJ). A empresa de entregas expressas até poderia mandar as peças para revisão em uma unidade da GE Aviation nos EUA, a menos de 900 km, mas prefere fazer o serviço no Brasil.
As peças chegam pelo aeroporto de Viracopos, em Campinas, seguem de caminhão até o porto seco de Resende, no Rio, e, de lá sobem a serra fluminense até Petrópolis. Na fábrica da subsidiária brasileira, as cerca de 10 mil partes que compõem uma turbina de avião são desmontadas, revisadas, reparadas e montadas novamente para depois fazer o caminho inverso até o hangar da companhia americana.
O que convence a Fedex – e várias outras estrangeiras, dos Estados Unidos à Coreia do Sul – a optar pela unidade do interior do Rio é a agilidade. Mesmo com toda essa ginástica logística, a Celma, fundada na década de 50 e comprada pela GE nos anos 90, consegue o menor prazo da GE Aviation na revisão de turbinas, de 65 dias, contra 80 na média global – considerando a data da retirada e devolução da peça na porta do cliente.
Há quatro anos, a unidade brasileira estreou na produção de turbinas para atender exclusivamente a Embraer. Excelência na revisão da peça, a empresa ainda precisa se provar na área de montagem e tem agora o seu mais novo desafio: produzir os motores para o avião ARJ21, da estatal chinesa Comac, concorrente da Embraer, feitos até maio pela fábrica da GE nos Estados Unidos. Duas turbinas já chegaram a Xangai no início do mês, e a terceira está em produção em Petrópolis. O contrato inicial prevê a entrega de 30 unidades.
Ocupação
Enquanto as turbinas para revisão formam fila à espera de um espaço na oficina, a divisão de montagem opera com apenas 30% de sua capacidade e representa somente 1% da receita da unidade. “Tínhamos uma projeção de mercado para a aviação que não se concretizou para os últimos anos. A montadora é competitiva. Mas pode ser mais com uma ocupação mais alta”, disse o presidente da GE Celma, Julio Talon.
Ao trazer o motor da Comac para a fábrica de Petrópolis, a GE Aviation matou dois coelhos com uma tacada só. Além de ocupar a fábrica fluminense, a companhia liberou espaço na unidade dos Estados Unidos para o desenvolvimento de novos produtos. Para a GE Celma, o contrato com a Comac é uma prova de fogo para mostrar se também pode ser competitiva na montagem de motores.
Diversificar a clientela é um imperativo para a unidade brasileira. A GE Celma já sabe que, no longo prazo, não poderá contar com a Embraer para encher sua montadora. A fabricante brasileira de aeronaves anunciou há dois anos a escolha de um motor concorrente, da Pratt & Whitney, para equipar a sua segunda geração de jatos, o E2, que chega ao mercado em 2018. Os jatos de primeira geração, que usam o motor brasileiro, serão produzidos até 2020. “O contrato com a Embraer foi a porta de entrada da GE Celma para fabricar turbinas novas. Sabíamos que se fôssemos bem-sucedidos outros projetos viriam”, conta Talon. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.