A visita de segunda-feira, 18, do presidente Jair Bolsonaro à sede da CIA, a agência de inteligência americana, em Langley, é fato raro na diplomacia brasileira e na história de visitas oficiais. Desde a criação da agência, em 1947, 14 presidentes brasileiros visitaram os EUA e destes apenas Bolsonaro esteve publicamente em Langley. A visita não constava da agenda oficial.
Levantamento feito junto a arquivos históricos do Departamento de Estado e da CIA mostram que apenas Juscelino Kubitschek e João Goulart, em 1956 e 1962, participaram de eventos com representantes da agência durante visitas de Estado – ambos em jantares oficiais.
O anúncio da agenda foi feito pelo filho de Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), via Twitter. Na rede social, o deputado anunciou: “Indo agora com o PR Jair Bolsonaro e ministros para a CIA, uma das agências de inteligência mais respeitadas do mundo. Será uma excelente oportunidade de conversar sobre temas internacionais da região com técnicos e peritos do mais alto gabarito.”
JK esteve nos EUA em 1956, no fim do primeiro mandato do general Dwight Eisenhower. Eleito em outubro, Juscelino se preparava para assumir a Presidência em meio à crise detonada pelo suicídio de Getúlio Vargas e o afastamento de Café Filho.
O presidente chegou aos EUA nos primeiros dias de janeiro, depois de uma escala em Belém. No Rio de Janeiro, deixou para trás críticas da oposição. Ele havia prometido bancar com recursos próprios a viagem, mas acabou recorrendo ao Itamaraty, que pagou US$ 150 mil pela turnê internacional.
JK reuniu-se com Eisenhower na Flórida e depois com o vice-presidente Richard Nixon em Washington. Na pauta, a busca por investimentos estrangeiros no Brasil, pedra angular de seu projeto desenvolvimentista. No auge da Guerra Fria, os americanos, porém, queriam dele compromisso de que combateria o comunismo.
Em sua agenda, JK se encontrou com o então diretor da CIA Allen Dulles, em jantar em Nova York, conforme mostram documentos do arquivo da CIA, e com o diretor de operações, Frank G. Wisner, a quem prometeu colaborar no combate a infiltrações comunistas no governo.
Preocupavam os americanos à época, segundo memorandos do Departamento de Estado, atividades esquerdistas na Sudene, no BNDES e na Petrobrás, criada no governo Vargas. “Posso prometer que faremos tudo para devolver a confiança aos americanos”, disse Juscelino. “Os problemas econômicos e políticos que enfrentamos no Brasil são correlatos. Não podemos resolver os primeiros sem cuidar dos últimos.”
Seis anos depois foi a vez de o vice de Juscelino, João Goulart, visitar Washington. A tensão política era consideravelmente maior. Com a ascensão de Fidel Castro em Cuba, em 1959, o avanço do comunismo tornou-se uma preocupação prioritária para o governo de John F. Kennedy.
Vice de Jânio Quadros e próximo de lideranças sindicais, Jango era visto com ressalvas, apesar de sua comitiva nos EUA estar composta por políticos de centro, como o então embaixador Roberto Campos e o ministro da Economia Walther Moreira Salles.
Em memorando enviado a JFK, o então diretor da CIA, John McCone, relata a conversa que teve com assessores de Goulart sobre as perspectivas para as eleições daquele ano. Uma das preocupações do governo americano era a expropriação, pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, de empresas americanas.
“Devemos avaliar, na medida do possível, uma apresentação (ao governo brasileiro) das operações de agentes de inteligência soviética e as provas que temos de sua penetração no Brasil”, diz o texto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.