Os presidentes do Chile, Gabriel Boric, de centro-esquerda, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, de centro-direita, reagiram ontem às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que relatos de violações de direitos humanos, autoritarismo e restrição das liberdades democráticas na Venezuela eram fruto de uma "narrativa".
"Não se pode fazer vista grossa a princípios importantes. Discordo do que Lula disse ontem (segunda-feira, 29). Não é uma construção narrativa, é uma realidade e tive a oportunidade de ver em centenas de milhares de venezuelanos que vivem na nossa pátria", afirmou Boric.
Lacalle Pou se disse surpreso com as declarações de Lula. "Vocês sabem o que pensamos da Venezuela e do governo da Venezuela", reagiu o uruguaio. "Se há tantos grupos no mundo tentando mediar a volta da democracia plena na Venezuela, para que haja respeito aos direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com um dedo. Vamos dar o nome que tem e vamos ajudar."
<b>Primeira vez</b>
O presidente chileno afirmou a jornalistas, após deixar a reunião de países sul-americanos promovida por Lula, que foi a primeira vez que muitos dividiram o mesmo espaço com Maduro.
Ele disse ter visto com satisfação o retorno do venezuelano às instâncias multilaterais, mas frisou que era relevante expor as diferenças, ainda mais pelo fato de seu governo também ser de esquerda.
"Como representante da esquerda, disse que era importante falar cara a cara com Maduro", explicou o presidente chileno, pressionado em seu campo político por suas críticas ao regime chavista.
De acordo com a chancelaria chilena, Antonia Urrejola, Maduro apenas ouviu as críticas sem responder às intervenções pessoais dos dois líderes.
<b>Tensão</b>
Dirigindo-se a Lula, Lacalle Pou afirmou que abordou o tema porque o comunicado conjunto, negociado e assinado pelos 12 presidentes, trata de questões relacionadas à democracia, liberdade política e direitos humanos. "Até pouco tempo, o Uruguai não tinha embaixador na Venezuela, e nós nomeamos um, como temos em Cuba e em tantos lugares. Nossa afinidade é com o povo venezuelano", explicou Lacalle Pou, no momento de maior tensão da cúpula.
As respostas de Boric e Lacalle Pou expuseram o desconforto entre os chefes de Estado. Mais do que a presença de Maduro, causou incômodo o prestígio hipotecado pelo petista ao chavista, recebido com pompa no Planalto.
<b>Petro</b>
Também em tom de crítica, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, outro líder de centro-esquerda, afirmou que a união entre países da América do Sul não passou do discurso e carece de projetos concretos. "Temos uma potencialidade em nossas mãos, várias soluções no nosso território para a crise integral da humanidade. Temos de debater para chegar a um consenso."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>