Economia

Uruguai e Rússia reforçam parceria em carne e lácteos

Uruguai e Rússia, tradicionais parceiros no setor pecuário, avançam em negociações para ampliar o intercâmbio comercial de carne bovina e de lácteos. Nesta semana, os ministros da Agricultura do Uruguai e da Rússia assinaram, em Moscou, um convênio que tem por objetivo reforçar o comércio e a troca técnica e científica entre os países. A assinatura veio na sequência da redução da tarifa para as exportações uruguaias de carne premium à Rússia. A taxa caiu de 50% para 15%, para qualquer quantidade exportada da proteína de alta qualidade. Anteriormente, volumes acima de 3 mil toneladas pagavam 50% de tarifa e abaixo, 15%.

De acordo com o governo do Uruguai, a Rússia é o principal comprador de manteiga do país latino, adquirindo 55% da produção do derivado – entre janeiro e outubro de 2015 foram comercializadas 8 mil toneladas, de acordo com dados do Uruguai. Em relação à carne bovina, o comércio entre os dois países não chega a movimentar grandes volumes, sendo que o país exporta, no total, uma média de 360 mil toneladas de carne bovina por ano.

Para o Brasil, analistas ouvidos pelo Broadcast Agro, serviço em tempo real da Agência Estado, acreditam que o estreitamento das relações entre Rússia e Uruguai não oferece risco às exportações de carne bovina brasileira – embora o setor também almeje aumentar suas vendas para a Rússia. Além de o volume produzido pelo Uruguai ser relativamente pequeno, brasileiros e uruguaios competem em nichos diferentes.

“As características do rebanho uruguaio se diferem das do brasileiro, que tem como base a genética zebuína (principalmente a raça Nelore), enquanto no Uruguai o rebanho se desenvolveu com base genética taurina”, afirmou ao Broadcast Agro a analista da Informa Economics FNP Ana Andrade. Esta diferença de linhagem produz carnes com padrões diferentes – a proteína proveniente de raças taurinas possui mais gordura entremeada, o que confere mais sabor e maciez à carne, considerada “nobre”. Já a proteína proveniente de raças zebuínas – principalmente o Nelore, a linhagem mais criada no Brasil -, produz uma carne mais magra e considerada, por enquanto, “commodity”, embora também de qualidade.

Iniciativas patrocinadas pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), em conjunto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Associação Brasileira de Angus (ABA), por exemplo, têm tentado conquistar mercados para cortes nobres em feiras internacionais. Trata-se, porém, de projeto que começou de maneira mais organizada só no ano passado.

Desta forma, a redução de taxas e a retirada da restrição de cotas de exportação da carne de qualidade do Uruguai não deve afetar a dinâmica de comércio do Brasil com os seus mercados estrategicamente mais atrativos. “No caso da Rússia, a carne proveniente do Uruguai vai suprir a demanda de nichos de mercado e não daqueles aos quais o Brasil já tem acesso”, acrescenta Ana.

O analista da Scot Consultoria Gustavo Aguiar também concorda que a intensificação da parceria Rússia/Uruguai não afetará imediatamente o Brasil. Mas ressalva, porém, que o País está ficando para trás na questão de acordos comerciais internacionais e cita como outro exemplo a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês), que deve atrapalhar os planos do Brasil de expandir sua fatia no mercado internacional de carne bovina, favorecendo grandes fornecedores integrantes da TPP, como Estados Unidos e Austrália. “O Brasil precisa se movimentar para firmar mais acordos comerciais, o que não está acontecendo de maneira satisfatória”, disse Aguiar.

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