Com repasse 4% menor do que o previsto nos cinco primeiros meses do ano, a crise nas contas da Universidade de São Paulo (USP) não tem perspectiva de melhora em curto prazo. De janeiro a maio, a instituição gastou 105,5% do que recebe do Tesouro estadual, o mais alto comprometimento para o período desde 1989, quando as universidades estaduais ganharam autonomia.
Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 14, pela reitoria. Além do congelamento de obras, contratações e salários, a USP ainda pretende cortar em 30% seus contratos terceirizados, concentrados principalmente nas áreas de limpeza e vigilância. No ano passado os gastos com terceirizados foram de R$ 180 milhões – o que representa pouco sobre o orçamento da USP, previsto para R$ 4,6 bilhões em 2014.
Na semana passada a reitoria montou um grupo de trabalho, com prazo de 90 dias, para otimizar o uso dos funcionários de segurança, do quadro próprio e terceirizado. O ideal é que as universidades gastem até 85% com folha de pagamento, mas a USP usa mais de 100% com salários desde janeiro. O colapso financeiro da USP foi o que mais pesou na decisão do conselho de reitores das estaduais de não dar reajuste a funcionários e professores. O órgão prometeu reavaliar a situação em setembro, mas o aumento depende da recuperação na economia.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) também gastam quase toda a receita com salários. As três instituições ganham cota fixa do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) paulista. Para que a USP atinja o orçamento previsto, a arrecadação precisa subir 13,8% no segundo semestre ante o mesmo período de 2013. Na primeira metade do ano, esse crescimento foi de 5,3%.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a USP confirmou que o prognóstico não é otimista. Outro fator que pesará nos cofres é a segunda fase da promoção dos servidores, de acordo com o plano de carreira aprovado em 2011. Para honrar os compromissos, a USP recorre cada vez mais às suas reservas, que caíram de R$ 3,61 bilhões para R$ 2,31 bilhões entre junho de 2012 e abril de 2014.
Transparência.
Para César Minto, da Associação de Docentes da USP, a apresentação dos dados financeiros é uma tentativa de justificar o “arrocho” salarial. “Querem justificar, mas temos insistido na abertura de todas as contas, na divulgação dos dados brutos”, reclamou.
O pedido de mais transparência será tratado pelo fórum de sindicatos das universidades em reunião nesta quarta-feira, 16, com o conselho de reitores. A pauta salarial, porém, não deve ser discutida no encontro. Na avaliação do presidente do Sindicato dos Trabalhadores da USP, Magno de Carvalho, algumas das medidas de austeridade adotadas pela reitoria prejudicam a instituição.