Uma nova vacina que pode ser uma ferramenta inovadora contra o câncer obteve resultados promissores, de acordo com um estudo preliminar divulgado no último mês. A análise foi feita com poucos participantes e por isso ainda demanda mais dados. O que chama a atenção no método é o uso do DNA do próprio paciente na formulação do tratamento. Abaixo, entenda as principais questões sobre o assunto.
<b>Quão promissores foram os resultados obtidos pela vacina contra o câncer?</b>
O oncologista Thiago Bueno, vice-líder do Centro de Referência de Tumores de Cabeça e Pescoço do A.C.Camargo Cancer Center, classifica os dados como promissores, mas mantém a cautela. “São resultados iniciais, mas promissores. Estamos empolgados com esses resultados iniciais, embora seja preciso manter os pés no chão e ter cautela. Vamos precisar ver os dados a longo prazo e analisar mais pacientes para afirmar que é uma tecnologia que veio para ficar no nosso arsenal no tratamento contra o câncer”, diz o especialista.
William Nassib William Júnior, diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia da BP – Beneficência Portuguesa, adota raciocínio semelhante. “Esse estudo aumenta o nosso conhecimento ao mostrar que o sistema imunológico foi capaz de ser treinado para reconhecer as moléculas introduzidas como tratamento. No entanto, nós não sabemos quais são os benefícios a longo prazo. Os dados são preliminares. Eles estão apontando na direção correta, mas precisamos de mais pacientes e de acompanhamento mais longo para ter certeza de que essa estratégia, bastante promissora, possa se tornar um novo tratamento padrão”, opina.
<b>Qual o diferencial do tratamento divulgado agora?</b>
Para Bueno, o grande avanço do estudo feito na Inglaterra é a personalização do tratamento. “Cada tumor de cabeça e pescoço é único. A personalização abre uma nova perspectiva de tratamento contra o câncer. Nós ainda não temos tecnologias de indução de resposta imune de maneira tão personalizada, como um tratamento para cada paciente”, explica.
A imunoterapia, tipo de tratamento onde se enquadra o estudo inglês, representa uma das mais recentes inovações no tratamento da doença metastática do câncer de cabeça e pescoço. A terapia estimula o próprio sistema imunológico do paciente a controlar o tumor. São medicações injetadas na corrente sanguínea do paciente que podem produzir bons resultados de acordo com a resposta do paciente.
William explica que o hospital estuda atualmente a combinação da imunoterapia com a quimioterapia ou com radioterapia para potencializar o efeito benéfico das duas medicações. Outra linha de pesquisa combina quimioterapia e imunoterapia para eliminar o câncer de laringe (garganta e corda vocal) sem a necessidade de cirurgia.
<b>Quais são os desafios para o desenvolvimento da técnica? </b>
Especialistas afirmam que as vacinas podem representar o futuro do tratamento contra o câncer, aproveitando o poder natural do sistema imunológico. As novas abordagens incluem imunizantes preventivos e terapêuticas capazes de diferenciar células tumorais das normais. Mas ainda existem grandes desafios para a criação e produção de vacinas contra o câncer.
Um deles é a variabilidade genética entre os tumores, inclusive de um mesmo sítio primário, ou seja, o local de origem do câncer, como explica Thiago Bueno. “Por esse motivo, uma vacina personalizada para cada tumor individualmente poderia vencer essa barreira”, exemplifica.
Outros desafios envolvem a própria identificação das células anormais. Para que uma vacina seja criada, é preciso encontrar uma molécula que seja estranha ao organismo. “Uma segunda dificuldade é encontrar as moléculas alteradas contras as quais o sistema imunológico possa desenvolver uma resposta robusta para eliminá-las”, avalia William Nassib William Junior