A Vale quer retirar da situação de extrema pobreza cerca de 500 mil pessoas que vivem na área de abrangência de suas operações no Brasil e no mundo até 2030. Essa é uma das três metas definidas pela mineradora dentro de sua ambição social, transmitidas nesta segunda-feira, 29, no encontro anual com investidores, realizado presencialmente na Bolsa de Nova York (NYSE).
Outras duas metas divulgadas pela companhia foram ajudar as 13 comunidades indígenas vizinhas às operações da Vale a terem melhor acesso aos seus próprios direitos previstos na Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas; e figurar entre as três empresas do setor mais bem posicionadas nos requisitos sociais em avaliações externas – como os índices Dow Jones e o MSCI, por exemplo.
"Queremos ser parceiros e contribuir para a autonomia das comunidades em que operamos. Queremos que deixem de ser dependentes da mineração, que é uma operação transitória", disse ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, acrescentando que a Vale pretende investir cerca de US$ 200 milhões (pouco mais de US$ 1 bilhão) até 2030 para dar a tração inicial ao projeto de redução de pobreza.
Bartolomeo explicou que a Vale mapeou cerca de 1,9 milhão de pessoas em situação de pobreza extrema no entorno de suas operações no Brasil, ou seja, vivendo com menos de US$ 1,90 de renda domiciliar per capita por dia. O Brasil será o foco inicial da Vale em 2022, expandindo essa ambição social para outros países em 2023. A empresa tem operações em outros países considerados pobres, como Moçambique, por exemplo.
"Não é uma iniciativa de fazer Bolsa Vale . Isso nós não vamos fazer porque não resolve o problema. O que vamos fazer é articular a sociedade civil, governo e empresas para parcerias", afirma o presidente da Vale, citando como exemplos de iniciativas que podem contribuir para a redução da pobreza extrema a melhoria da educação formal e a promoção do empreendedorismo urbano e rural e melhoria de equipamentos na área de saúde.
Dados divulgados recentemente pelo IBGE mostram que o Brasil tem 16,2 milhões de pessoas extremamente pobres, o que representa 8,5% da população, levando em consideração a linha de corte de US$ 1,90 por dia do Banco Mundial. "Poderíamos ter usado outro indicador de meta, como IDH, mas escolhemos a pobreza inclusive porque depois da pandemia ficou claro que a situação se agravou ainda mais", afirmou.
Sobre o apoio às comunidades indígenas, o executivo lembra que a mineradora se relaciona com povos indígenas também fora do Brasil. Em Voisey s Bay, no Canadá, por exemplo, 50% da força de trabalho é de aborígines. A diretora de sustentabilidade, Maria Luiza Pinto e Paiva, explica que a intenção da Vale é conversar com os povos e entender o que cada uma precisa. "Queremos participar da autonomia dos povos indígenas", explica a diretora de sustentabilidade.
Bartolomeo assumiu o comando da mineradora em abril de 2019, poucos meses após o desastre da barragem de Brumadinho (MG). Desde então, ele conduziu a mineradora a avançar em uma agenda ambiental e de governança – dois dos três temas da agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança). Segundo ele, a empresa já gastava valor relevante no social, mas faltava definir uma ambição.
"Gastamos e desembolsamos um valor relevante no social, mas faltava dar uma roupagem correta, definir como uma ambição social. Trouxemos essa visão. O maior aprendizado de Brumadinho foi ouvir e se engajar com as pessoas. Não podíamos tirar da nossa cabeça o que a sociedade espera da gente", acrescentou Bartolomeo, que também vai anunciar nesta segunda-feira novas metas de diversidade para a companhia.
A Vale antecipou em cinco anos, para 2025, a meta de atingir 26% de participação feminina na força de trabalho. Atualmente, o porcentual de mulheres na Vale é de 18,7%, contra 13,5% em 2019, quando a empresa firmou a meta para mulheres dentro de uma estratégia de diversidade global, informou o executivo.
Além disso, a Vale anunciou que pretende alcançar 40% de empregados negros em funções de liderança no Brasil até 2026, contra 29%, número registrado após a realização de um censo autodeclaratório com os empregados no Brasil. Na última edição do Programa de Trainee, por exemplo, a Vale selecionou 95 profissionais negros. Isso significa que, dos 144 trainees contratados pela empresa, 66% se autodeclararam pretos ou pardos no momento da inscrição.