Quando a Rede Globo, maior emissora do País, transmitiu ao vivo, pela primeira vez em sua história, um combate de MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas) organizado pelo UFC (Ultimate Fighting Championship), no início da madrugada de 12 de novembro do ano passado, não só lhe garantiu picos de 18 pontos de audiência, onde cada ponto equivale a 58 mil domicílios na Grande São Paulo.
A transmissão, de cerca de 30 minutos e que foi até 1h da madrugada, transformou o MMA numa febre brasileira, aumentando a procura pelas academias de luta, movimentando o mercado publicitário e provocando verdadeiros embates entre adversários e adeptos da modalidade, que tem em Anderson Silva sua maior estrela no Brasil.
Projeto de lei número 5534/2009, do deputado federal José Mentor (PT), quer proibir a transmissão ao vivo do MMA pela televisão. “Nosso objetivo é proibir o televisionamento de lutas agressivas e brutais que banalizam e propagandeiam a violência pela violência, sem qualquer outra mensagem, pela TV, que é uma concessão estatal”, informou o parlamentar à Revista Free São Paulo.
“O deputado não é contra a luta, é contra a divulgação gratuita desta violência. Levar a luta para dentro de casa pode ter uma influência negativa nas crianças e adolescentes. Quem quiser assistir, que compre ingresso e vá ao ginásio”, observou. O projeto está tramitando atualmente na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Federal.
Para a psicóloga Marisa de Abreu, especializada em Psicoterapia e Terapia Cognitiva Comportamental, a influência da TV no comportamento da criança dependerá muito da postura dos pais ou de quem estiver junto dela assistindo a uma luta. “Se os adultos usarem expressões do tipo ‘bate nele, é isso mesmo o ensinamento será: quanto mais violência gratuita melhor. Mas se os pais aproveitarem para dizer que isso é um esporte, que estas pessoas são preparadas para lutar exclusivamente numa luta programada e que, mesmo assim, existem esportes que podem causam muitos danos, que eles usam proteções, que esta luta tem regras, aí o ensinamento será outro”, explicou.
Mas a verdade é que o MMA está cada vez mais fazendo parte do dia-a-dia de quem gosta ou não da modalidade, que envolve técnicas do Jiu-Jitsu, do Muay Thai e do Boxe, e muita violência. Semana passada, estreou em todo o Brasil o documentário “Anderson Silva: Como Água”, que conta a vida do grande ídolo do UFC.
Em abril estão previstos os lançamentos de livros que vão abordar o MMA: “A Bíblia MMA, pela Universo dos Livros; a autobiografia de Anderson Silva, pela Sextante, e “Filho Teu Não Foge à Luta: como os lutadores brasileiros transformaram o MMA em um fenômeno mundial”, pela editora Intrínseca.
É pouco? Tem mais. Está sendo filmada a história de José Aldo, campeão MMA dos pesos-pena, que será vivido na telas pelo ator Malvino Salvador, o “Quinzé”, da novela Fina Estampa, da Globo.
A emissora fundada por Roberto Marinho vai lançar neste domingo, dia 25, o The Ultimate Fighter – Em busca de campeões, programa que vai envolver os ídolos Vitor Belfort e Wanderley Silva no papel de técnicos de dois times rivais. O reality show começa com 32 lutadores e a final será em junho. Algo do tipo BBB da luta.
“Atrás de um golpe, uma longa história de treinos”
Um campeão do UFC ganha milhões de dólares por ano e é pela fama, pelo glamour da luta e por uma conta bancária recheada que o MMA vem provocando aumento na procura pelas academias de luta de São Paulo. Mas chegar aos dólares é um caminho mais doloroso que as porradas que serão levadas no octógono, ringue de 19,4 metros de diâmetro e 54,98 metros quadrados de área, idealizado exclusivamente para o MMA.
Pelo menos esta é a opinião do campeão de Muay Thai Fernando Henrique Pereira dos Santos, de 33 anos, o “Fernando Maestro”, da Academia Versus Fight Club MMA e professor da Academia Anderson Silva, do Corinthians.
“Não é fácil ganhar dinheiro no MMA. É ilusão que alguns atletas alimentam. Para chegar no UFC é necessário muita dedicação. Por trás de um golpe existe uma jornada de anos e anos de treinos, de suor; é o trabalho de uma vida inteira”, afirmou.
A Versus Fight Club MMA, onde treina o pai de Anderson Silva, no bairro de Santa Cecília, registrou um aumento de 60% de alunos procurando curso de MMA. Mas nem todos, à procura de dinheiro, conforme o Maestro. “Cerca de 90% dos nossos alunos querem mais qualidade de vida, condicionamento físico, tirar o estresse do dia-a-dia”, afirmou.
O mestre Maestro lamentou ainda o preconceito com lutadores. “Dizem que o MMA é violento. Mas temos técnica, segurança e regras. O que fazemos pode ser mal visto devido à falta de conhecimento. Violentas são as lutas clandestinas que acontecem nos finais de semana em todo o Brasil e ninguém diz nada”, criticou.