A trajetória das ações da Via Varejo e Magazine Luiza, as maiores do varejo de móveis e eletrodomésticos, reflete a montanha russa pela qual o setor vem passando. Quando decidiram abrir seu capital, essas empresas se beneficiavam do bom momento da economia, que mascarou erros estratégicos, como sobreposição de pontos de venda, mau gerenciamento de estoque e dificuldade na integração das redes adquiridas. Agora, com a recessão, os problemas vieram à tona e afetaram o valor de mercado dessas empresas.
A líder Via Varejo, controlada pelo francês Casino, que abriu seu capital em 16 dezembro de 2013 e foi avaliada à época em R$ 5,9 bilhões, teve seu valor reduzido a menos da metade até sexta-feira, 13, a R$ 2,64 bilhões. No Magazine Luiza, o tombo foi maior: quando estreou na Bolsa, em 28 de abril de 2011, valia R$ 2,4 bilhões. Na sexta-feira, estava avaliada em R$ 234 milhões.
Marcelo Silva, presidente do Magazine Luiza, disse que a crise política e econômica travou o País. “Houve uma mudança no consumo. Mas passamos por várias crises e o cenário pode mudar.”
A rede aposta no comércio online, que tem menos capital imobilizado, e quer impulsionar a sua empresa virtual Época Cosméticos, adquirida em 2013, voltada para cosméticos e perfumes, segmento mais resiliente, cujas vendas cresceram 3,6% de janeiro a setembro, segundo o IBGE.
A rede também está revendo oferta de produtos e se concentrando em itens com maior apelo de vendas, como TVs inteligentes, smartphones e tabletes. Em 2010, o grupo comprou a Lojas Maia, que expandiu os negócios do grupo no Nordeste. O processo de integração, segundo analistas, foi mais demorada que o esperado.
Já a Via Varejo, nos últimos meses, reavaliou a sobreposição de bandeiras (Casas Bahia e Ponto Frio) para arrumar a casa. A companhia, apurou o jornal O Estado de S. Paulo, vai manter a prática de preços agressivos, desde que não afetem as margens. A intenção, com essa liquidação, é girar estoques numa velocidade maior e ficar menos dependente de crédito bancário.
As redes regionais enfrentam dificuldade ainda maior para sobreviver. A mineira Eletro Zema vai dar marcha à ré este ano. Segundo o presidente, Romeu Zema, o faturamento da empresa deve regredir dois anos, para R$ 1,3 bilhão – mesmo patamar de 2013. “Chegaremos a dezembro com prejuízo, depois de muito tempo no azul.”
O terceiro trimestre, segundo ele, foi o pior de todos até agora, com queda de 20% nas vendas. “Não assistíamos nada parecido desde a época do Fernando Collor.”
Recuperação judicial
O tombo nas vendas de eletromóveis reduziu o fôlego de empresas menos capitalizadas, que recorreram à recuperação judicial. Dados da Boa Vista SCPC, empresa especializada em informações financeiras, mostram que os pedidos de recuperação judicial no comércio em geral aumentaram 34,5%, de 245 de janeiro a outubro de 2014 para 329 este ano. A estatística não segrega os pedidos por segmento e porte.
A rede Dadalto, do Espírito Santo, é um caso recente. Em outubro, a varejista entrou com pedido de recuperação judicial, com dívidas de R$ 256 milhões. A empresa, que faturou R$ 643 milhões em 2014, alega que a alta dos juros e desaceleração das vendas desequilibraram suas finanças.
Antes de pedir recuperação judicial, a família controladora colocou o negócio à venda, mas as conversas não evoluíram. De acordo com a advogado Sérgio Bermudes, responsável pelo processo, a venda ainda é uma alternativa. “A empresa está em dificuldade, como tantas outras do setor, mas continua operando e tem chances de se recuperar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.