Na reta final da campanha, Donald Trump voltou a ser assombrado pela pandemia. Apesar de dizer que a vitória sobre o vírus está próxima, ele vem sendo desmentido pela realidade. Ontem, quando ensaiava ataques a Joe Biden, a crise voltou a bater na porta da Casa Branca: cinco assessores de seu vice, Mike Pence, testaram positivo para covid e seu próprio chefe de gabinete, Mark Meadows, reconheceu que o governo não vai controlar a pandemia.
Atrás nas pesquisas, a nove dias da eleição, e tendo de enfrentar um novo surto de covid – os EUA vêm registrando mais de 80 mil novos casos por dia -, Trump vem cruzando o país tentando impor sua narrativa, defendendo seu legado econômico e atacando o rival democrata, descrito ora como um radical de esquerda, ora como um político fracassado.
Ontem, porém, a Casa Branca voltou a ser criticada por não proteger seus próprios funcionários. Marc Short, chefe de gabinete de Pence, um dos assessores mais próximos do vice-presidente, que foi visto recentemente ao lado dele em várias ocasiões, foi diagnosticado com covid – outros quatro da equipe também foram contaminados.
Outros quatro assessores também testaram positivo. O vice-presidente, no entanto, manteve a agenda de campanha e não cumpriu isolamento social – como recomenda o protocolo estabelecido por agências do próprio governo americano. De acordo com Devin OMalley, porta-voz de Pence, o vice-presidente e sua esposa, Karen Pence, fizeram exames e não estão com coronavírus. Segundo OMalley, o trabalho de Pence é considerado "essencial", por isso ele não entrou em quarentena.
Inicialmente, Mark Meadows, chefe de gabinete da Casa Branca, tentou esconder as informações sobre a equipe de Pence. "Compartilhar informações pessoais não é algo que a gente deva fazer, não é algo que fazemos. A menos que seja o vice-presidente, o presidente ou alguém muito próximo deles, quando há pessoas em risco", disse Meadows em entrevista ao jornalista Jake Tapper, no programa State of the Union, da CNN.
Pressionado, Meadows voltou a comparar a covid-19 à gripe comum, um argumento usado por Trump, mesmo depois de ter sido hospitalizado com a doença que matou mais de 220 mil americanos. "Não vamos controlar a epidemia, vamos controlar o fato de que podemos ter vacinas, tratamentos e outras formas de aliviá-la. O vírus é contagioso como uma gripe."
As críticas a Pence vieram de todos os lados – e não somente de democratas. Chris Christie, ex-governador republicano de New Jersey, disse ontem ao programa This Week, da rede ABC, que ficou surpreso com a decisão do vice-presidente de continuar a campanha mesmo após testes positivos de cinco assessores. "Todo mundo deveria colocar a saúde das pessoas em primeiro lugar", disse Christie. "Você tem de se manter isolado de todos e estou um pouco surpreso com isso."
Biden aproveitou a sequência de notícias para acusar Trump de se "render à pandemia". "Não foi um deslize de Meadows (chefe de gabinete), foi um reconhecimento sincero da estratégia do presidente Trump desde o início da crise: agitar a bandeira branca da derrota e esperar que, ignorando-a, o vírus simplesmente vá embora", disse o democrata. "Ele não foi embora e não irá."
Vivendo uma terceira onda de infecções, principalmente em Estados do Meio-Oeste e centro-norte dos EUA, a crise deve dominar o noticiário até o dia da eleição, na semana que vem. Na sexta-feira, os americanos registraram seu maior número diário de casos de coronavírus desde o início da pandemia, com pelo menos 82,6 mil novas infecções – mais do que o estabelecido durante o pico de casos em julho.
A onda atual é mais espalhada territorialmente do que as anteriores A disseminação geográfica torna o vírus mais perigoso, uma vez que pode causar uma escassez de equipes médicas e suprimentos. Os hospitais já estão relatando a falta de medicamentos básicos necessários para tratar o covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. "Uma maneira de superar as ondas anteriores foi movimentando os profissionais de saúde. Isso não é possível agora, porque o vírus está surgindo em todos os lugares", disse Eleanor Murray, epidemiologista da Universidade de Boston. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>