A ciência brasileira está “à beira de um desmonte”, que poderá levar décadas para ser revertido, segundo o biólogo Marcos Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e professor do Instituto de Biociências da USP.
“Nós levamos um tempo enorme para atingir um patamar de nível mundial; e vamos voltar ao que éramos quando a gente era uma ciência de terceiro mundo.”
Esse desmonte já está acontecendo ou é um risco futuro?
Nós ainda temos uma gordura para queimar, enquanto os projetos continuarem, mas se essa situação perdurar por mais dois ou três anos acho que vai começar a haver uma desmobilização. Os cientistas vão começar a pensar em ir para fora do País ou fazer uma ciência mais barata, que é o que nós fazíamos nas décadas de 1970 e 1980.
Mas como manter o orçamento em tempos de crise?
Se houver um vácuo e a gente não conseguir remontar o sistema, isso vai custar mais caro do que o dinheiro que a gente está deixando de gastar agora. Ciência não é gasto, é investimento. Quando você economiza em gasto é uma coisa; quando você economiza em investimento, você paga mais caro lá na frente.
Pode dar um exemplo de algo que a ciência já fez pelo Brasil?
O agronegócio brasileiro não existiria sem a Embrapa, sem a Unicamp, a USP e tantas outras instituições de pesquisa. Uma variedade de soja hoje tem uma tecnologia embarcada que pode ser comparada à de um telefone celular. É isso que fez do Brasil uma potência agrícola.