A inflação do varejo no âmbito do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) avançou timidamente em setembro e começou a captar os efeitos da efeitos da desvalorização cambial, com destaque para a alta nos preços de derivados do trigo, carnes e materiais de limpeza. A avaliação é do economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), após avaliar o IGP-M do mês, de 0,95% e que em agosto havia sido de 0,28%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), por sua vez, ficou em 0,32%, após 0,24% em agosto.
Os reflexos mais notórios da alta do dólar sobre os preços no varejo foram registrados na parte de panificados, que tiveram variação de 1,50%, depois de 0,38% no oitavo mês do ano. O tradicional pão francês entra nessa lista como o principal destaque de alta, ao sair de 0,83% para 1,55% este mês. “Biscoitos, bolos e pães estão com taxas acima das registradas em agosto. Vão continuar subindo”, disse.
Os produtos químicos também estão captando o impacto da depreciação cambial, afirmou o economista. Neste caso, o item de material de limpeza saiu de uma variação de 1,06% no oitavo mês do ano para 1,89%. A variação do detergente passou de 1,10% para 3,42%, enquanto a de desinfetante ficou positiva em 2,58%, após deflação de 1,33%. “É dólar na veia (na parte química”, afirmou.
As carnes bovinas começam a “ensaiar” alta, ao registrar taxa de 1,50% em setembro, enquanto o frango inteiro ainda cedeu 0,87%, segundo Braz. O óleo de soja ainda ficou no campo negativo, em 0,01%, mas já sinaliza mudança de sinal. “A tendência é que o repasse continue e não fique somente naqueles produtos que são mais consumidos”, estimou.
De acordo com Braz, a transferência da alta do dólar para a inflação ao consumidor seria ainda maior se não fosse a recessão econômica, que vem inibindo o consumo. “A tendência é que os repasses fiquem mais lentos neste momento de crédito caro e aumento do desemprego”, avaliou.
Sem câmbio
Ao contrário da alta de quase 15% registrada na batata-inglesa no atacado, no varejo o comportamento deste item ainda é baixo (0,69%). A expectativa de Braz é que o repasse dos preços ao produtos para o consumidor aconteça nos próximos meses e também pressione o IPC. Ele lembra que em 12 meses, no atacado, a batata acumula variação positiva de quase 180%. “Não tem efeito do dólar, mas está e deve continuar pressionando”, estimou.