A rapidez com que a variante Delta do novo coronavírus se dissemina tem colocado à prova o eficaz sistema de barreiras não farmacológicas em países do Leste Asiático e da Oceania contra a covid-19. Mais transmissível, a cepa driblou as barreiras sanitárias impostas na China, na Austrália e no Vietnã, exemplos do combate à doença antes da chegada das vacinas.
O caso mais recente é o australiano. Nesta quinta-feira, 5, Sydney, Melbourne e Brisbane adotaram lockdown para conter o avanço da Delta. O país passou relativamente incólume aos primeiros 18 meses da pandemia, graças a um sistema bem-sucedido de monitoramento de casos e testagem em massa.
Desde o começo de agosto, o Exército patrulha as ruas de Sydney para monitorar o confinamento, enquanto a terceira maior cidade do país, Brisbane, reforça o lockdown.
Com milhares de pessoas obrigadas a cumprir uma quarentena de 14 dias por terem tido contato com alguém com a covid-19, a polícia disse não dispor de pessoal suficiente para fazer cumprir o confinamento. O Exército está ajudando a polícia a distribuir cestas básicas, a fazer “atendimento de porta em porta” e verificar se o isolamento individual está sendo cumprido.
Na China, um dos poucos países que pareciam confiantes na vitória contra o novo coronavírus, a rápida disseminação da variante Delta levou o governo de várias cidades a impor novos lockdowns e os testes estão sendo feitos aos montes. Desde o dia 21 de julho, quando a variante começou a se espalhar pelo país, o número de novos casos de covid-19 subiu para 483, mais do que a soma dos cinco primeiros meses do ano. A nova variante já está presente em 15 das 31 províncias chinesas.
“Ainda existe uma baixa taxa de vacinação nesses países, também porque começaram tardiamente. Aí você tem uma população que não está vacinada, que tem resistência à vacina e uma variante que é mais contagiosa. Isso somado leva a problemas para os países asiáticos”, explica o coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM, Alexandre Uehara.
O país de 1,4 bilhão de habitantes havia erradicado os casos de covid tão rápido que foi um dos primeiros a retirar as restrições no ano passado. As pessoas já andavam sem máscaras nas ruas e participavam, inclusive, de pool parties (festas na piscina). Agora, as comunidades voltam a ter restrições e milhares de pessoas são testadas. O maior desafio está no fato de que a nova variante se espalha mais rápido e de forma assintomática.
O governo chinês orienta as pessoas a não viajarem pelo país e anunciou restrições a seus cidadãos que viajarem para o exterior. Para controlar o surgimento de novos casos, os serviços de imigração deixarão de expedir, temporariamente, passaportes.
Para Uehara, as medidas restritivas são a única saída dos países asiáticos neste momento, mas é preciso avançar na vacinação. “Em muitos países asiáticos, a população tem receio de tomar a vacina e isso é uma dificuldade. Os governos precisam ampliar as campanhas para ganhar confiança e aumentar a vacinação.”
<b>Vacinas</b>
É o caso da Austrália e do Vietnã. Com um ritmo de vacinação lento, apenas cerca de 15% dos 25 milhões de habitantes da Austrália estão completamente imunizados, as autoridades acreditam que os confinamentos ajudarão a reduzir a propagação do vírus. Mas impor novas restrições deixa a população cada dia mais impaciente.
O Vietnã também se preocupa com a variante Delta e viu um aumento diário de novos casos da covid de quase 61%. A economia vietnamita foi uma das poucas que cresceu no ano passado justamente pela eficiência em conter a primeira onda da pandemia.
Mas o país do sudeste asiático demora a vacinar a população, com apenas 4,5 milhões de doses administradas até agora e a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que a variante pode desencadear mais surtos justamente em áreas onde as taxas de vacinação são baixas.
Desde o final de julho, o governo do Vietnã determinou o confinamento dos 8 milhões de habitantes de Hanói, capital do país, sendo que quase um terço dos 100 milhões de habitantes do país já estavam confinados, para tentar conter a doença.
“Não está muito claro o porque exatamente os países asiáticos tiveram menos casos até agora, fato que levou muitas nações a dar pouca ênfase à vacinação. Agora, enquanto vários países ocidentais têm boa parte da população vacinada, o que permite que mesmo com o contágio, os casos sejam menos graves, na Ásia, isso pode fazer com que os casos aumentem significativamente, e casos mais graves podem começar a aparecer”, diz Uehara. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>