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Vem Doce, de Vanessa da Mata, é um caldeirão de ritmos

O papo da reportagem do <b>Estadão</b> com a cantora e compositora Vanessa da Mata, em sua casa em um fim de tarde, foi interrompido por um casal de rolinhas que procurava uma árvore no quintal da artista, na zona oeste de São Paulo.

"É um bom sinal", disse a cantora. Naquele momento, Vanessa falava da canção Foice, uma das doze músicas inéditas do álbum Vem Doce, recém-lançado por ela – o sétimo de estúdio e o décimo na carreira. O disco será divulgado em turnê prevista para começar no dia 26 de maio, em São Paulo.

A letra de <i>Foice</i>, assinada só por Vanessa, fala sobre sincretismo religioso. Versa também, em ritmo de afrobeat, sobre injustiças sociais, da corrupção entranhada na política, da ganância do agronegócio, além de bradar contra o racismo.

Vanessa sabe bem o que quer dizer com ela. Aprendeu desde cedo, com a avó católica e benzedeira – que via espíritos e morria de medo do julgamento da Igreja, – que a diversidade existe e tem de ser respeitada. Nessa época, o pai lhe trazia discos de Roberto e Erasmo Carlos, de rock brasileiro e sertanejo. Ele queria que Vanessa fosse uma cantora sertaneja. O "lado preto" da família, o da mãe, lhe oferecia brasilidades diversas.

<b>CALDEIRÃO</b>

No álbum <i>Vem Doce</i>, esse múltiplo aparece no caldeirão de ritmos que Vanessa – é ela quem assina a produção do álbum – buscava para o trabalho: reggae, pop, trap e samba.

"Eu queria estar perto da crônica e da literatura (diz ela, sobre as letras), mas também trazer o movimento dos ritmos. Penso que nós ainda temos – e os compositores homens também – certa dificuldade em mostrar a vastidão rítmica aliada a letras coerentes, que discutam e provoquem reações", explica.

Artista com uma trajetória de grandes sucessos, Vanessa discorre sobre os diferentes papéis da música: dançar, ouvir em casa ou servir de fundo para a conversa em um bar. Refletir ou entreter. "Minha intenção era geral", disse.

<i>Vem Doce</i> é um R&B abrasileirado, que fala de amor e sensualidade, feito em parceria com o produtor e beatmaker carioca Papatinho. Ele e Vanessa se encontraram no estúdio e, em uma hora, segundo ela, fizeram 41 músicas. Apenas Vem Doce – ou "vem com tudo", como explica Vanessa sobre a intenção da expressão – entrou nesse disco.

<b>Para seu novo disco, Vanessa da Mata convida jovens talentosos </b>

O rapper L7nnon, pupilo do produtor musical Papatinho, é um dos convidados do álbum Vem Doce, de Vanessa da Mata. O músico está sempre entre os artistas mais ouvidos das plataformas de streaming, a cada canção que lança. Juntos, L7nnon e Vanessa escreveram a faixa Fique Aqui. Ela confessa que queria algo mais comercial.

Única regravação do álbum, a canção Comentário a Respeito de John, de Belchior e José Luiz Penna, é dividida com o cantor João Gomes, jovem pernambucano e líder do chamado piseiro, um derivado do forró com elementos do funk.

João, de 20 anos, conta Vanessa, é seu fã. E também de Belchior, assim como de Luiz Gonzaga. "Ele tem uma cultura musical invejável. A voz dele é de velho, no sentido do grave. É raro ter um menino dessa idade que sabe o que é o aboio ou cantar uma música do Gonzaga dos anos 1950", elogia a cantora. "A voz dele tem a ancestralidade nordestina", completa ela.

A canção, que repete a máxima dos Beatles de que "a felicidade é uma arma quente", encaixa-se no álbum tanto na diversidade rítmica quanto para o que Vanessa queria dizer ou "escrever pelos muros do País".

<b>INFLUÊNCIAS</b>

O olhar para o novo não impede Vanessa de mostrar que continua de braços dados com suas primeiras influências musicais. O samba-rock <i>Oi</i>, parceria inaugural com Marcelo Camelo, tem acento "jorgebenjoriano", sobretudo no violão tocado por Maurício Pacheco.

Vanessa retoma a parceria com Ana Carolina, após mais de 20 anos. Eu Repetiria tem versos românticos, tema também do samba <i>Me Liga</i>.

Entre as faixas com vocação literária, está <i>Menina (Deus Te Dê Juízo)</i>, parceria com Ilan Adar, sobre uma garota dividida entre tentações mundanas e a proteção das orações feitas pela madrinha. A música era para Maria Bethânia gravar, mas o disco da cantora baiana já estava pronto.

Outro velho conhecido de Vanessa é o músico Jaques Morelenbaum. Ele toca violoncelo em <i>Face</i> e<i> Avesso</i>, que encerra o álbum. Uma faixa de forte discurso político e social, acentuado pelo toque inconfundível de Morelenbaum.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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