O varejo de materiais de construção vive um momento de ressaca em relação ao pico de vendas visto na pandemia de covid-19. E redes que já indicavam desânimo com o setor agora buscam compradores para suas operações. No momento, tanto a Telhanorte, da gigante francesa Saint Gobain, quanto a C&C, cujo controle pertence à família do banqueiro Aloysio Faria (que morreu em 2020), estão em busca de um comprador.
A Telhanorte é uma das maiores redes do setor, com 77 unidades (incluindo também a marca Tumelero). Já a C&C tem 36 lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
É um mercado que cresceu muito na pandemia, mas agora passa por uma acomodação. O varejo de materiais de construção fechou 2021 com faturamento de R$ 202,3 bilhões, crescimento real de 4,4% sobre 2020, segundo levantamento realizado pela Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco). O crescimento veio sobre uma alta de 11% de 2019 para 2020. No entanto, esse ímpeto vem arrefecendo. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), o segmento teve recuo de 7,1% em agosto, na comparação com o mesmo mês de 2021.
Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), especialmente no caso da Telhanorte a possibilidade de venda viria do fato de o varejo não ser o foco da Saint Gobain. A companhia francesa fabrica materiais e soluções para construção, mobilidade, saúde e outras aplicações industriais.
Enquanto isso, Terra diz que, na C&C, a possível venda se relaciona mais a questões da sucessão do negócio – problema comum em empresas familiares.
Enquanto Telhanorte e C&C buscam interessados, a Leroy Merlin, também de origem francesa, tenta assumir a dianteira do segmento, mas com planos de expansão orgânica. Depois de dois anos de pandemia, a empresa retomou seu plano de expansão e pretende abrir mais de 15 lojas no País até 2025. No fim da expansão, a rede terá 59 lojas.
A aposta do mercado é de que os compradores das redes concorrentes teriam de vir do mercado financeiro. "O interesse teria de vir de um parceiro financeiro, com a intenção de escalar o negócio e, futuramente, realizar os lucros em uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês)", diz Terra. Caso semelhante aconteceu com a Quero-Quero e o fundo de investimentos Advent. O private equity (que compra participações em empresas) ficou no negócio entre 2008 e 2020, saindo justamente via Bolsa.
Procurada, a C&C não quis comentar, enquanto a Saint Gobain disse não comentar especulações de mercado.
<b>Redes menores</b>
Se para grandes redes é difícil encontrar interessados, as redes locais, por sua vez, já têm sido mapeadas por um fundo de investimentos. A Fortune One, gestora de fundos com foco em private equity, afirma ter cerca de R$ 300 milhões para investir em redes menores de materiais de construção.
Marcos Costa, CEO da Fortune One, diz que o foco é comprar fatias minoritárias em redes locais, na tentativa de consolidar o setor aos poucos, priorizando empresas com faturamento de cerca de R$ 1 bilhão por ano. O fundo já teria cinco empresas mapeadas para este fim.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>