O advogado venezuelano Eliecer Jiménez chegou a Bruxelas há 13 meses como turista. Assim que pisou na Europa, fez um pedido de refúgio. Foi atendido e levado a um abrigo onde, para sua surpresa, teve de dividir beliches com sírios e líbios.
Jiménez engrossa uma lista de 200 mil venezuelanos que, em 2018, solicitaram refúgio pelo mundo. O número, segundo a ONU, já supera o de novos pedidos de sírios, que chegou a 42 mil no mesmo período. Os pedidos são duas vezes maiores que o volume de estrangeiros que cruzam o Mediterrâneo em direção à Europa.
Segundo a Organização Internacional de Migrações, 104 mil pessoas desembarcaram na Grécia, Itália e Espanha desde janeiro. “Foi um choque para mim”, disse Jiménez. “Logo entendi que a situação venezuelana é a mesma de algumas das maiores tragédias de hoje.”
O advogado alega ter sido alvo de perseguição por defender opositores na Venezuela. Jiménez ficou no albergue por sete meses e, após receber documentos de refugiado, passou a ganhar uma ajuda para alugar um apartamento modesto. Hoje, estuda idiomas para tentar voltar ao mercado de trabalho.
Ainda que existam 3 milhões de venezuelanos vivendo fora do país, grande parte é qualificada como imigrante econômico. Apenas são refugiados os perseguidos políticos. No total, 365 mil venezuelanos pediram status de refugiado no mundo desde 2014. O número mais que duplicou. No ano passado, foram 103 mil solicitações. Em 2018, mais de 205 mil em dez meses.
A grande maioria está na América Latina. Desde 2014, 150 mil fizeram pedidos no Peru e 65 mil, no Brasil. Nos EUA foram 72 mil pedidos. Os números ainda estão distantes dos mais de 5,4 milhões de refugiados sírios pelo mundo. Mas o auge do êxodo da Síria foi em 2014 e 2015. Hoje, os novos pedidos de venezuelanos superam os novos casos de sírios.
Jaime Santos, de 33 anos, não teve a mesma sorte de Jiménez. O dentista chegou a Madri há duas semanas, mas não conseguiu pedir refúgio. Pelo procedimento, ele tem de se apresentar a uma delegacia de polícia. “O problema é que, por dia, a delegacia atende a 99 pessoas”, disse. O resultado é que a fila começa a ser formada na noite anterior.
Santos contou que chegou ao local às 21 horas, na esperança de ser atendido quando o dia clareasse. “Na ponta da fila, havia pessoas vendendo o lugar por ¤ 200”, queixou-se. No dia seguinte, ao falar com a reportagem, Santos disse que não tinha conseguido ser atendido. “Dormi na calçada e não serviu para nada.”
O venezuelano David Placer, autor do livro Los Brujos de Chávez (“Os Bruxos de Chávez”), que também vive em Madri, afirma que a Espanha tem negado refúgio para a maioria dos venezuelanos. “Muitos alegam que, por terem participado de protestos, foram alvo de repressão e têm o direito de obter status de refugiado”, disse. “A piada que se faz é que a cada voo da Iberia, entre Caracas e Madri, volta para a Venezuela apenas o piloto e as aeromoças.”
Muitos chegam com muito dinheiro. Francisco Javier Rodríguez, que trabalha há dez anos como gestor de fundos de investimentos em Madri, aponta um fluxo importante de pessoas com investimentos de mais de ¤ 500 mil. Em Madri, a quantidade de venezuelanos levou o bairro de Salamanca a ser rebatizado de “Little Venezuela”.
Ali estão nomes como Miguel Ángel Capriles, magnata do setor imobiliário e primo de Henrique Capriles, líder opositor. O bairro tem um preço médio de ¤ 6 mil por metro quadrado, um dos mais altos da Europa. Prédios inteiros foram comprados por venezuelanos, como a família Cohen, dona da construtora Sambil, e o banqueiro Juan Carlos Escotet. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.