Variedades

Vera Chytilová, o nome da transgressão checa

Começou na quarta, 24, no CCBB, uma retrospectiva completa dedicada à autora checa Vera Chytilová (1929-2014). No fim de semana, os cinéfilos poderão assistir aos dois filmes mais famosos de Vera. Os melhores? Muito provavelmente. No sábado, às 19h30, As Pequenas Margaridas. No domingo, às 16h, Fruto do Paraíso. Vera sempre rejeitou o rótulo de feminista – preferia considerar-se individualista. “Se há algo de que você não gosta, não siga as regras – quebre-as. Sou inimiga da estupidez e do pensamento simplista, sejam de homens ou mulheres.” Como diretora de cinema, ela se destacou nos anos 1960, integrando o que na época se chamava de nouvelle vague da antiga Checoslováquia, influenciada pela nova onda francesa.

Vera talvez não concordasse com o título que a curadora Rosa Monteiro criou para o seu evento – A Grande Dama do Cinema Checo. Na juventude, ela estava mais para despudorada, realizando filmes para expressar as pulsões vitais da juventude. As Pequenas Margaridas é sobre duas Marias que se lançam num exercício de hedonismo. Sexo, comida. Buscam o prazer imediato. O filme provocou grande escândalo em 1966. O Partido Comunista acusou Vera de indecente e niilista. Em 1961, com Strop/Teto, já havia rompido com o academicismo oficial e adotado práticas assimiladas do cinéma verité para embaralhar os limites da ficção e do documentário.

Em As Pequenas Margaridas, teve a cumplicidade do marido e fotógrafo, Jaroslav Kucera. Um passeio das Marias num jardim vira dança coreografada, o jantar com o velho rico é uma dupla forma de saciar a fome e enganar os homens – que merecem ser enganados. As Marias comemoram – “Estamos ficando cada vez melhores nisso.” A liberdade de tom prosseguiu com Fruto do Paraíso, em 1970. Com o namorado, Eva passa o dia numa espécie de spa, onde o casal se defronta com a tentação. Vera Chytilová fez sua fábula alegórica sobre o Jardim do Éden.

Alegórica – e psicodélica, porque se há uma coisa que essa diretora, melhor seria dizer artista, ajudou a estabelecer foi a fama do cinema checo como o mais belo, visualmente, do bloco socialista. Tudo isso, claro, antes que os tanques soviéticos invadissem Praga, em 1968.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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