Estadão

Vereador diz que Celso Pitta era negro de alma branca e gera revolta em SP

O vereador paulistano Arnaldo Faria de Sá (Progressistas) foi acusado de racismo na noite desta segunda-feira, 12, ao dizer que o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (1946-2009) era "um negro de verdade, um negro de alma branca".

A declaração, feita durante a sessão plenária e com transmissão ao vivo, gerou protestos de parlamentares de vários partidos, como PSOL, PSDB, PT e Novo, além de uma exigência de retratação ainda na sessão pelo presidente da Câmara, Milton Leite (DEM).

Faria de Sá citou o ex-prefeito em uma fala em que pretendia defender Pitta, que chegou a enfrentar um processo de impeachment. A fala foi dita quando o vereador queria elogiá-lo.

Uma representação contra Faria de Sá será protocolada ainda nesta terça-feira, 13, na Corregedoria da Casa. Segundo parlamentares de diferentes partidos ouvidos pela reportagem, há clima para que alguma punição seja aplicada ao vereador. O vereador pode ser advertido, suspenso por um prazo determinado ou mesmo cassado.

A primeira vereadora a se queixar da fala foi Elaine do Quilombo Periférico (PSOL). "Mais uma vez venho pedir respeito para os vereadores para que não utilizem falas racistas neste plenário. Dizer que um negro para ser um bom negro precisa ser um negro de alma branca é uma frase absolutamente racista e inaceitável", disse. Ela teve apoio da colega de bancada Luana Alves e, logo na sequência, da vereadora Cris Monteiro (Novo), que chamou a fala de "lamentável".

Os vereadores Adilson Amadeu (DEM) e Carlos Bezerra Júnior (PSDB) chegaram a defender Faria de Sá, dizendo que a expressão poderia estar descontextualizada e que era preciso ouvir a fala do parlamentar mais uma vez. Foi quando a vereadora Luana Alves (PSOL) passou a mostrar um áudio com a frase aos colegas.

"Esta presidência ouviu o áudio e se sente ofendida. É uma fala absolutamente racista", disse o presidente Milton Leite. A partir daí, uma série de vereadores pediu a palavra para manifestar repúdio.

"Foi uma fala repugnante, racista e absolutamente criminosa. Infelizmente me vejo obrigado nessa posição de fazer essa crítica a essa figura política", disse Fernando Holiday (Novo).

O líder do PSDB na Câmara, Xexéu Trípoli, afirmou que era "com tristeza" que comentava a manifestação de Faria de Sá, "mas não podemos deixar passar" falas como aquela e que "a gente está aqui tentando reverter tudo o que nosso passado já fez". "Precisamos tomar muito cuidado com nossas ações e nossas palavras", disse Isaac Feliz (PL).

Luana Alves é líder da bancada do PSOL na capital paulista e disse que tomaria na segunda-feira "todas as medidas cabíveis" diante da fala de Faria de Sá. "É muito triste que isso aconteça nesta casa. Já aviso que vamos tomar todas as medidas. Uma fala racista como esta é inadmissível nesta casa." Nesta terça, disse que o ato cometido por Faria de Sá é crime.

Após a reação maciça dos vereadores de todas as bancadas, Faria de Sá pediu a palavra para se retratar. "Realmente me equivoquei e peço desculpas. Não quero discutir com ninguém, só quero pedir desculpas humildemente", afirmou. Mesmo assim, continuou a ser alvo de repúdio. Os vereadores Eduardo Suplicy (PT), Erika Hilton (PSOL), Fábio Riva (PSDB), Delegado Palumbo (MDB), André Santos (Republicanos), Rubinho Nunes (PSL) e Felipe Becari (PSD) também fizeram críticas, entre outros parlamentares.

O vereador Marlon do Uber (Patriota) disse, já após o pedido de desculpas, que quem comete crimes pode se arrepender, "mas tem que pagar".

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