Ele alcançou o topo da moda e depois teve uma queda livre. Subiu e caiu outras tantas vezes. Mas isso em nada muda o fato de que Ocimar Versolato, que morreu na sexta-feira, 8, de acidente vascular cerebral (AVC) no Hospital São Paulo, zona sul da capital, foi um dos maiores talentos brasileiros. E o único a ter sido aceito no seleto grupo da Chambre Syndicale de la Haute Couture, entidade máxima da moda francesa.
Com desfiles em mais de 30 edições da São Paulo Fashion Week, o estilista, nascido em São Bernardo (SP), onde foi enterrado ontem, chegou a conquistar o posto de diretor criativo da Lanvin, a maison centenária fundada em Paris. Aclamado como grande talento de sua geração, rejuvenesceu a marca. “Sabia enaltecer o corpo feminino e isso deixava clara sua brasilidade. Seu trabalho tinha estilo próprio, era sexy e elegante ao mesmo tempo, e zero vulgar”, lembra a editora de moda Flavia Lafer. “O que o impediu de permanecer no topo foi sua personalidade complicada.”
Polêmico, atacava colegas e azedava sociedades. “Não sou como alguns estilistas do Brasil, que a cada estação copiam coleção e mantêm, entre si, o acordo tácito de não copiarem as mesmas grifes: um copia a Balenciaga, o outro a Comme des Garçons, o outro a Prada e o outro a Gucci”, disse certa vez.
Nascido em 1.º de abril de 1961, ele estudou Arquitetura antes de mudar-se para Paris, em 1987 e formar-se no Studio Berçot. Gostava de dizer que entrou na moda pela porta certa. Foi assistente de Gianne Versace, trabalhou durante quatro anos com Hervé Léger, antes de criar a marca própria, em 1994. “Catei alfinete no chão, desenhei vestido, conheci os fornecedores e os jornalistas de moda. Tive escola”, avaliou certa vez.
Chegou a ter uma loja própria maravilhosa na Place Vendôme, em sociedade com a brasileira Ana Luiza Pessoa de Queiroz, que era sua cliente. “Mas deu o passo maior que a perna e acabou falindo”, lembra a curadora de moda e estilo Helena Montanarini. “Mas ele era um sedutor, que encantava clientes e investidoras. Ele juntava o talento com a sedução.”
De volta ao Brasil, conquistou a empresária Sandra Habib, cujo marido, Sérgio, é proprietário da holding das concessionárias da marca Jaguar no País. Em menos de um ano, a dupla chegou a abrir sete lojas, quatro delas em São Paulo (em pontos luxuosos e caros como a Rua Haddock Lobo e o Shopping Iguatemi), duas no Rio e uma em Brasília. Foram investidos R$ 15 milhões na época, mas em pouco tempo o negócio “flopou” – e em um episódio relâmpago as lojas fecharam, uma a uma.
“Ocimar foi como fênix. Brilhou e caiu várias vezes no Olimpo da moda”, diz a jornalista Lilian Pacce. “A moda nacional perde um grande e polêmico talento – Denner e Clodovil pareceriam ingênuos diante de todas as controvérsias que pontuaram a vida de Ocimar, que era tecnicamente brilhante.”