“Quer trabalhar na Disney? Pergunte-me como.” Assim poderia ser resumida uma das apresentações que o diretor, designer e animador Eric Goldberg fez durante a edição carioca do festival Anima Mundi 2014, encerrado neste domingo, 3. Em sua primeira passagem pelo Brasil, o diretor, que é especialista na criação de personagens, revelou para uma plateia atenta como funciona um dos maiores centros de produção de animação do mundo: os estúdios Disney.
Diante de dezenas de jovens dispostos a entrar para a indústria que gera milhões e milhões todo ano, Goldberg deu dicas preciosas e um conselho que vale também para quem quer produzir sua própria animação: “Não apareça dizendo que faz qualquer coisa. Não queremos saber que você é capaz de copiar perfeitamente o estilo Disney. A gente quer saber o que só você é capaz de fazer.”
Mais do que apresentar o programa de Trainees da Disney em um dos maiores festivais de animação do mundo, Goldberg também ministrou uma master class sobre como criar personagens memoráveis e participou de uma conversa sobre sua carreira – o que fará também na edição paulista do Anima Mundi, que começa na quarta e segue até domingo.
“Vou falar e mostrar trechos dos meus primeiros trabalhos e dos mais importantes”, contou ao Estado o animador, um dos responsáveis pela criação de personagens como o Gênio, de Aladdin (1992), o sátiro Phil, de Hércules (1997), e o jacaré Louis, de A Princesa e o Sapo (2009).
Versátil, Goldberg destaca a o traço artesanal e a herança de valorização dos personagens, crucial para o pioneiro Walt Disney, mas não perde de vista os avanços tecnológicos e sociais. “O ideal é um mix de tradição e modernidade. É preciso ter sensibilidade para entender que, apesar de desenho, nossos personagens têm alma e são criados tanto pelo animador quanto pelo ator que os dubla”, analisa ele, que também tem no currículo a codireção de Pocahontas (1995) e Fantasia/2000.
Em tempos em que as novas tecnologias invadem até mesmo os estúdios da Disney, ouvir um especialista da velha guarda como Goldberg falar de animação é uma lição não só de mercado mas também de cinema. “Como se manter atual? E criar personagens que têm personalidade, que continuam com você mesmo depois do filme?”, indaga. “É preciso estar atento ao que move as pessoas, às emoções. Há muitos talentos em todo o mundo. Quero muito ver O Menino e o Mundo (longa brasileiro que venceu o último Festival de Annecy). É grande conquista ver que o Brasil está propondo novas linguagens e temáticas.”
Mesmo que, como mostra a seleção do Anima Mundi, o mundo tenha ganhado diversos novos centros produtores de animação, o padrão Disney ainda tem influência forte sobre os jovens. Para continuar relevante, o estúdio não quer parar no tempo. “Estamos de olho nos novos talentos e em tecnologias que tragam novas possibilidades. Mas são os criadores que guiam sempre o visual e as emoções dos filmes”, diz. “Hoje somos 930 animadores de todo o mundo. Cada um traz algo particular. Investimos muito nos curtas, como Paperman, que levou o Oscar este ano. Nosso novo longa, por exemplo, Big Hero 6, é a primeira animação da Marvel que a Disney vai lançar.”
E como encantar as novas gerações, cujos sonhos de menina não se limitam mais a encontrar o príncipe encantado? “O público quer heróis que representem as mudanças da sociedade”, declara. “É como fazer sorvete de chocolate. A cada filme reinventamos algo que todos amam. E continuamos sendo atuais. A Tiana, de A Princesa e o Sapo, é cheia de atitude, quer ter seu negócio. Pocahontas é atlética, caçadora. Mas, a bem da verdade, mais que realista, uma boa história tem de ser verossímil. Se conseguirmos fazer com que o público acredite nela, teremos vencido a batalha.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.