Depois de mais de um mês parado, o Hubble voltou a funcionar, no último sábado, dia 17, e já enviou à Terra imagens inéditas de duas galáxias incomuns, segundo informou a Nasa. O veterano telescópio espacial foi lançado em 1990 com previsão de funcionar por 15 anos, mas já está em órbita há mais de três décadas. Com o conserto, feito a distância, são grandes as chances de o equipamento continuar na ativa, mesmo após o lançamento do James Webb, seu substituto, previsto para o fim deste ano.
"Carro velho é fogo, né?", brincou a astrônoma Duília de Mello, da Universidade Católica da América, colaboradora do Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa, onde fica o centro de controle da missão do telescópio. "Meu pai falava isso, não tem jeito, começa a dar problema."
O computador de transmissão de dados, que controla os instrumentos científicos a bordo do observatório, parou de funcionar subitamente em 13 de junho. Automaticamente, todos os instrumentos científicos do Hubble entraram em modo de segurança. O telescópio parou de gerar informações.
Para consertar o equipamento, construído ainda nos anos 1980, engenheiros do controle da missão do Hubble contaram com o conhecimento de especialistas que trabalharam com o telescópio ao longo de sua história. Ex-alunos, funcionários aposentados e até mesmo especialistas que participaram da construção do observatório foram convocados. Documentos de 40 anos atrás foram desarquivados para ajudar os engenheiros a encontrar um caminho para o conserto.
"Esse é um dos benefícios de ter um programa que está em funcionamento contínuo há mais de 30 anos: a grande quantidade de experiência e expertise acumulada", afirmou Nzinga Tull, gerente de respostas anômalas do Hubble.
Quando um grupo de astronautas esteve no Hubble pela última vez, em 2009, foram feitos alguns consertos e instalados equipamentos de backup, o que estendeu a vida útil do observatório. Entre eles, o do computador de transmissão de dados.
Para colocar o telescópio novamente em ação, os especialistas tiveram de acionar o backup a distância pela primeira vez na história. A manobra levou 15 horas, mas funcionou. Dois dias depois de voltar a funcionar, o Hubble já estava enviando dados à Terra.
Desde que foi lançado, em 24 de abril de 1990, o Hubble já fez mais de 1,5 milhão de observações, algumas das quais mudaram nossa compreensão do Universo. Conseguiu fotografar, com grande precisão, objetos astronômicos extremamente distantes. As informações geradas pelo telescópio – que fica a 547 quilômetros da Terra – contribuíram para algumas das mais importantes descobertas já feitas. Entre elas, a expansão acelerada do Universo, a evolução das galáxias ao longo do tempo e os primeiros estudos da atmosfera de planetas fora do Sistema Solar.
"O lançamento do Hubble pode ser comparado com a ida do homem à Lua; ambos representaram um grande avanço do ponto de vista astronáutico", comparou Duília de Mello. "Sempre foi um projeto de grande importância dentro da Nasa, o telescópio que nos revelaria o Universo."
O telescópio acabou entregando muito mais do que o prometido. "A imagem mais importante do Hubble, eu sempre falo, é a das profundezas do Universo, do campo ultraprofundo do Universo", diz a astrônoma brasileira, que participou dessa pesquisa. "Mas tem muito mais coisa, como a formação das estrelas, dos sistemas solares, os quasares, os buracos negros supermassivos, só com o Hubble vimos isso tudo."
Ao anunciar o conserto do telescópio, o administrador chefe da Nasa, Bill Nelson, comemorou, elogiando a equipe que viabilizou a solução do problema: "Estou muito feliz que os olhos do Hubble estejam enxergando de novo o Universo, mais uma vez capturando o tipo de imagens que vem nos intrigando e inspirando há décadas. Por meio dos esforços desse grupo, o Hubble continuará sua viagem de 32 anos e nós continuaremos a aprender por meio de sua visão transformadora." As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>