Giscard Stephanou, de 46 anos, estava animado para ir à sua segunda Olimpíada. Ele ficou frustrado com o veto do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio-2020 em relação à entrada de torcedores do exterior como forma de conter a disseminação da covid-19 no Japão. No entanto, entendeu a decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI).
"Tendo em vista essa questão sanitária, acho que foi uma decisão correta. A maior parte das pessoas estaria exposta e poderia aumentar o número de casos pelo mundo", disse o serviço público, morador de Brasília. "Por outro lado, é um sentimento de frustração por deixar de ir ao maior espetáculo esportivo do planeta. O espírito olímpico acontece muito por conta do ambiente, que envolve não só os atletas, mas a torcida".
Torcedor fanático do Grêmio e fã de esportes, Giscard esteve nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, e já marcou presença em diversos eventos esportivos no Brasil e no exterior. Foi à Copa do Mundo do Brasil, em 2014, ao Mundial da Rússia, em 2018, viu a seleção brasileira vencer a Copa das Confederações em 2013 e a Copa América em 2019, e foi espectador in loco de jogos de tênis, vôlei e corridas de Fórmula 1. Agora, esperava ansioso pelos Jogos de Tóquio-2020, mas só poderá ver pela televisão.
"É um evento grandioso, sensacional. Foi o fato de estar no Rio em 2016 que partiu a minha ideia de estar em Tóquio, Paris, e o que mais vier", pontuou. O torcedor gastou cerca de R$ 13,5 mil em 35 ingressos para ele e a esposa de 11 modalidades diferentes: a final do futebol masculino, tênis, basquete, vôlei, vôlei de praia, surfe, canoagem, "para assistir ao Isaquias Queiroz", judô, ginástica, atletismo e vela "para ver o Robert Scheidt e a Martine Grael". No total, entre hotel, passagens aéreas e entradas, desembolsou quase R$ 30 mil. "Planejei tudo desde 2018 e comprei os ingressos em 2019, quando começou a ser vendido", contou.
Giscard receberá o reembolso do hotel que reservou, terá algum prejuízo com as passagens e ainda não sabe se vai reaver todo o valor gasto com os ingressos. A Match Hospitality, responsável pela comercialização da entrada, ainda não definiu como será o processo (veja mais ao lado). A empresa reteve 20% da taxa de conveniência dos torcedores que foram reembolsados em 2020 após o anúncio de que a Olimpíada havia sido adiada para este ano. Segundo os organizadores, torcedores estrangeiros compraram cerca de 600 mil ingressos.
"Se eu não conseguir o reembolso integral com a Match, eu pretendo ir à Justiça porque o evento não foi cancelado, fomos barrados de assistir não por nossa culpa, mas pela decisão dos organizadores, do COI", salientou Giscard. Este é o mesmo pensamento de Tiago Medeiros, 35 anos, que pagou quase R$ 15 mil por 30 ingressos para assistir a 13 modalidades com a mulher. "Acho que não podemos ficar com esse prejuízo porque não fomos nós que causamos a proibição do público", ressalta o locutor de rádio de Brasília. "Acredito que o COI deve se responsabilizar e determinar que as empresas contratadas para venda de ingressos devolvam todo o dinheiro pago pelos torcedores", reforçou.
Diante da gravidade da pandemia do coronavírus, ele também compreende o veredicto do Comitê Organizador. "Como vários países ainda estão em situação sanitária grave, seria muito arriscado para a população local receber milhares de turistas. Por isso, mesmo perdendo a viagem não fiquei chateado, porque sei que esta proibição é para proteger a saúde da população japonesa", opinou.
O adiamento dos Jogos Olímpicos para este ano foi benéfico para Bruno Datan Grachet, de 31 anos, ao possibilitar que ele se planejasse para ir ao megaevento. Contudo, a pandemia não deu trégua e seus planos foram frustrados. "Surgiu uma segunda chance para eu conseguir realizar esse desejo de ver a Olimpíada e, com um tempo maior, eu acabei encontrando oportunidades melhores para me organizar. A esperança era que até julho de 2021 as coisas estivessem mais resolvidas", comentou o videomaker, de São Carlos, interior de São Paulo, ciente de que o veto a torcedores estrangeiros que não moram no Japão foi uma decisão razoável.
"Claro que a gente fica chateado em não poder participar, afinal era um plano que estava fazendo há mais de 4 anos", lamentou Bruno, que despendeu cerca de R$ 4 mil em ingressos. "Mas a segurança e a saúde das pessoas têm de ser o foco principal de todos nesse momento. Acredito que seja uma necessidade para a segurança tanto dos japoneses quanto das pessoas de todos os outros países".
Ele é mais um que cogita acionar a Justiça caso não receba o reembolso integral. "Afinal, 20% é uma grande parte do valor e não acho justo que tenhamos esse prejuízo, sendo que fomos proibidos de participar do evento".