Em agosto de 1992, o Brasil vivia uma grave crise. O Congresso Nacional discutia o que se considerava – até então – o maior escândalo político da história. Sem noção de que uma década depois os desmandos seriam ainda maiores, quando eclodiu o Mensalão, a população foi às ruas vestida de preto para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Na época, denúncias veiculadas pela imprensa, a partir do próprio irmão do chefe da Nação, Pedro Collor, davam conta de um grande esquema de corrupção que envolvia diretamente o poder maior do país. Sem sustentação política, não demorou para Collor cair.
Mas antes de sofrer o impeachment, acreditando que poderia contar com a força da nação, foi à televisão pedir o apoio da população. Em um ato quase de desespero, suplicou que os brasileiros fossem às ruas vestidos de verde e amarelo, em ação de civismo por sua permanência no poder. A resposta foi imediata. O preto simbolizou que não havia mais condições do presidente ser mantido no cargo. O tiro saiu pela culatra e pouco tempo depois ele foi defenestrado do Planalto.
Vinte anos se passaram. O Brasil evoluiu. Elegeu por voto direto três presidentes em cinco diferentes pleitos (Fernando Henrique Cardoso e Lula por duas vezes cada, além da atual Dilma Roussef, em seu primeiro mandato). Mas no meio do caminho, novo escândalo – entre outros menores – veio à tona. Em 2005, novamente o presidente – no caso, Lula – poderia ter o mesmo fim diante das denúncias de envolvimento direto de gente importante do primeiro escalão no Mensalão, esquema que incluia arrecadação de dinheiro para distribuição a parlamentares que, segundo se apurou, era chefiado por ninguém menos do que o ministro da Casa Cilvil, José Dirceu, então homem forte não só do PT mas do próprio chefe da Nação.
Nada aconteceu na prática. Somente hoje, sete anos depois, após muitas idas e vindas, o Supremo Tribunal Federal leva ao banco dos réus quase três dezenas de acusados. Em alguns dias, virá a sentença. Porém, mesmo com o grande anseio da nação por ver os culpados punidos, já se imagina que nada vai acontecer de diferente. Dificilmente, uma convocação à nação hoje para vestir o verde e o amarelo surtiria algum efeito. Nem tampouco, preto. O Brasil, literalmente, encontra-se desmobilizado. Collor, aliás, hoje é senador da República. E dá pitacos sobre corrupção.