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Violência Contra a Mulher – A cada 9 horas uma mulher sofre agressão física em Guarulhos

No primeiro quadrimestre deste ano, foram registradas 323 ocorrências de lesões intencionais

"Ele me agrediu com socos na cabeça, tapas no rosto e me mandou sair de casa." O drama vivenciado por uma copeira de 19 anos, que apanhou do marido no último sábado e registrou ocorrência na Delegacia da Mulher nesta semana, é vivido diariamente por muitas guarulhenses. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, pelo menos uma mulher a cada 8h52 é agredida na cidade.

A Delegacia da Mulher registrou 323 ocorrências por lesão corporal dolosa (com intenção de ferir) contra mulheres no primeiro quadrimestre deste ano em Guarulhos. Para especialistas, o número de agredidas é bem superior, já que muitas vítimas não têm coragem de denunciar os companheiros.

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De acordo com a delegada titular da Delegacia da Mulher (DDM) da cidade, Beatriz Relva, metade das mulheres que registram ocorrência de agressão na polícia não processam os maridos. "Depende de a vítima iniciar o processo judicial. Muitas só querem informar a violência e voltar a viver com os companheiros", diz.

Especialistas reclamam que há policiais militares e civis que quando chamados para atender casos de violência doméstica tentam apaziguar a situação, o que pode trazer problemas às esposas quando ficam a sós com os maridos. A sócia-fundadora do Centro de Integração da Mulher (CIM), Silvia Moraes, explica que as mulheres demoram, em media, 10 anos para acusar os companheiros.

A presidente da Associação Brasileira de Defesa da Mulher da Infância e da Juventude (Asbrad), Dalila Figueiredo, comentou que na semana passada a ONG ficou dois dias aguardando vaga em um abrigo para proteger uma mulher e três crianças vítimas de violência do marido. Ela diz que a falta de abrigos no município para esses casos obriga que as situações de emergência de Guarulhos tenham que esperar o surgimento de vagas em outras cidades. "Tia, será que meu pai não vai encontrar a gente", disse uma das crianças, antes de ir para o abrigo.

Prefeitura promete abrigo para vítimas de violência

As guarulhenses vítimas de violência doméstica quando precisam fugir dos companheiros, junto com os filhos, são levadas para outros municípios, já que Guarulhos não possui abrigo adequado para recebê-las. Segundo a coordenadora Hedy Maselli Cabrera de Almeida, da Coordenadoria da Mulher, a cidade deve ganhar um novo abrigo ainda neste ano com 25 vagas.

O bairro que receberá o equipamento não pode ser divulgado para dar maior segurança às vítimas. O abrigo pode abrigar as mulheres e os filhos por até três meses, normalmente por encaminhamento do Judiciário. A cidade também não possui Centro de Recuperação para Agressores, como prevê a Lei Maria da Penha (legislação federal que trata da violência contra a mulher). Hedy explica que não há condições com o orçamento atual da Coordenadoria para construir o equipamento.

A coordenadora destaca que o município oferece atendimento às vítimas de violência doméstica nas unidades municipais de saúde. Nas casas das Rosas, Margaridas e Beths as mulheres podem receber assistência jurídica e psicológica. Os equipamentos concedem cursos gratuitos para a formação profissional. "O trabalho é árduo e extenso. Procuramos trazer políticas públicas para dar autonomia às mulheres e levantar a autoestima delas", diz.

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