A Virada Cultural, o maior evento no calendário de São Paulo, contou com um investimento recorde desde a primeira edição, há 15 anos. Mais de R$ 18 milhões vão pagar os shows e eventos culturais que serão realizados nos próximos dias 18 e 19 de maio, sábado e domingo, em 250 pontos da cidade.
O show oficial de abertura será às 21h de sábado, com Caetano Veloso e filhos mostrando o espetáculo de Ofertório no palco Anhangabaú. Será este um dos focos dos grandes shows, além de um novo espaço para a música sertaneja e a migração da música gospel para a Praça da Sé.
Depois de Caetano haverá o rapper Criolo (meia-noite de sábado), o filho mais novo de Fela Kuti, Seun Kuti, e o grupo Egypt 80 com participação da cantora IZA (3h de domingo), a megastar gospel Aline Barros (9h) e, talvez a apresentação com a maior lotação da edição, Anitta (às 12h). Anavitória será às 14h30 e Lucas Lucco, às 17h.
“Quando pensamos nesses grupos, pensamos no mercado que eles movimentam”, diz Alê Youssef, secretário municipal de Cultura.
O mais novo movimento de gigantismo da Virada vem em um histórico de efeitos sanfona da atração desde sua origem. Depois das primeiras edições menores, como testes, o evento foi abraçado pela cidade para nunca ser interrompido pelas gestões seguintes, mesmo obedecendo a diferentes formatos.
Os episódios de violência em alguns anos, sobretudo em 2013 e 2014, fizeram com que administrações reduzissem atividades de palco em alguns anos, retirassem determinados espaços do centro em outros e até mesmo descentralizassem o projeto nas últimas edições.
A aposta mais infeliz se deu em 2017, quando a gestão de João Doria decidiu levar atrações para o Autódromo de Interlagos e para o Anhembi, na zona norte, esvaziando o centro. Os novos espaços acabaram vazios e o centro também. Apenas 1,6 milhão de pessoas se animaram a acompanhar os shows.
Alê Youssef fala em tom de resistência cultural quando justifica sua vontade de fazer a maior Virada de todas. A cultura tem enfrentado dias difíceis em outras esferas de governo, com o achatamento e restrições de patrocínio anunciadas em Brasília. “Precisamos mostrar a valorização da cultura. Claro que, neste momento, isso se torna um posicionamento de afirmação da relevância dos aspectos da cultura.”
Guiness
“A maior edição da história do evento”, “um dos maiores eventos do mundo”, “o maior do Brasil”, “queremos colocá-lo no livro dos recordes”, “a Virada das multidões”. Escritas em slides ou pronunciadas pelas autoridades que estavam na manhã desta quarta, 8, na sede da Prefeitura de São Paulo, essas frases reforçavam as intenções do governo municipal. A Prefeitura quer fazer uma Virada para ser lembrada e, para isso, investiu R$ 18,840 milhões, a mais cara dentre todas as 15 edições. Desse montante, R$ 10 milhões pagaram os cachês dos artistas e quase R$ 8 milhões foram para infraestrutura. Ao todo, serão 250 pontos de espetáculos com 1,2 mil atrações distribuídas em 32 subprefeituras. “Queremos acabar com a disputa entre Virada no centro e Virada descentralizada. A Virada é para todos”, disse o prefeito Bruno Covas.
A projeção de público pode dar uma dimensão melhor do que devem se tornar as ruas de São Paulo no final de semana da Virada. Enquanto a edição de 2018 atraiu 1,6 milhão de pessoas, 2019 pode ter cinco milhões nas ruas, o que seria uma marca inédita. A maior novidade geográfica é a inclusão da Avenida Paulista como perímetro cultural, com equipamentos como Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles, Japan House e Masp abertos 24 horas e sem cobrar entrada. Além de atrações de massa, como Anitta, Anavitória, Maria Rita, Caetano Veloso, Pablo Vittar e Grande Encontro (Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo), dois novos palcos devem atrair multidões: o sertanejo, na Luz, terá Naiara Azevedo, Marcos & Belutti, Victor & Diogo e Roberta Miranda. Outro espaço reformulado é o palco da música gospel, que migrou para a Praça da Sé. “São Paulo se acostumou aos grandes eventos. Acabamos de fazer o maior carnaval da história”, disse o secretário municipal de Cultura, Alê Youssef. “A programação desta Virada será para multidões”, reafirmou.
Multidões são boas para o Guinness Book, livro dos recordes no qual tanto Bruno Covas quando Alê Youssef disseram na coletiva querer inscrever o nome da Virada de 2019, mas podem trazer problemas do mesmo tamanho. Um retrospecto mostra que, quanto mais público nas Viradas, mais as pessoas ficam vulneráveis a assaltos, furtos e arrastões. Em 2007, a Virada comemoraria o fato de ter mais do que dobrado seu público com relação a 2006, de 1,5 milhões para 3,5 milhões de pessoas, não fosse um fato lamentável. Fãs do grupo Racionais MCs entraram em confronto com a polícia às 5h. Carros, banheiros químicos e lojas foram depredados. Onze pessoas foram presas por furto e seis ficaram feridas.
Uma das edições mais violentas foi a de 2013, quando quatro milhões de pessoas foram às ruas. Arrastões e assaltos, sobretudo depois da meia noite do sábado, assustaram quem caminhava entre um palco e outro. Ao final, 33 pessoas foram presas, dez menores acabaram apreendidos e duas pessoas morreram, uma vítima de overdose e outra, de latrocínio. Questionado pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre a ligação entre concentração maior de massas e violência, e ainda sobre o que poderia dizer às pessoas que têm medo de ir à Virada, Alê Youssef respondeu: “Quanto mais gente nas ruas, mais segura a Virada vai ser.” Ele disse ter planos operacionais tratados com os órgãos de segurança. “Estamos apostando na experiência bem sucedida que foi o carnaval de São Paulo.” O secretário municipal de Segurança Urbana, Cel. José Roberto, estava na plateia e foi chamado a dizer algo sobre segurança. Sem dar número de efetivo, disse que serão mais homens e que esta quantidade pode ser ajustada até mesmo no dia do evento. E não deu mais detalhes.
Programação
Ao mesmo tempo em que palcos de atrações grandes são anunciados como potenciais atrativos de multidões, como os de Anitta, Lucas Lucco e Pablo Vittar, alguns gêneros menos visíveis se tornam menos representados. O choro, que contou com um espaço exclusivo em outras edições, com programação 24 horas – um sucesso na Praça do Patriarca -, tem, desta vez, como mostra o site oficial, uma frequência inconstante. Abre apenas à 1h de domingo, com Choronas 25+, mostra Hamilton de Holanda às 3h da manhã de domingo e só reabre às 11h, com o Choro Cantado. A música instrumental, que também já foi bem tratada em edições anteriores com espaços 24h, será feita no palco Pátio do Colégio com apenas cinco atrações e uma pausa entre 3h da manhã e 12h de domingo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.