A Virada Cultural de São Paulo vive este ano seu teste de fogo. Entre duas naturezas de crise devastadoras para a cultura, uma econômica e outra institucional, a festa que entrou para o calendário da cidade há doze anos faz uma edição tentando estabelecer um novo ponto de equilíbrio. Além dos tremores de terra que o anúncio da extinção do MinC provocou no setor artístico nesta semana, a Virada tem ainda de enfrentar seu inimigo n.º 1: a violência.
Sem conseguir um plano eficiente que inibisse a ação sobretudo de grupos organizados previamente pelas redes sociais para a prática de arrastões, a Prefeitura decidiu eliminar alguns palcos do centro, como o Palco Sé, o Palco Luz e o 25 de Março. O prefeito Fernando Haddad, em coletiva de imprensa, explicou: “É à luz das informações da Polícia Militar, que levantou os palcos nos quais havia mais ocorrências, que tomamos a decisão de refazermos a logística dos palcos”. Sua fala deixa uma reflexão: a Virada Cultural perdeu para a violência, jogou a toalha. Já que não conseguiu retirar os bandidos, retirou os palcos.
As boas notícias também existem. Ao mesmo tempo em que perde força sua charmosa concentração de atrações no centro antigo, a Virada é estendida para bairros aos quais não chegava. Casos, por exemplo, de Parelheiros, onde Emicida faz o show mais esperado (às 17h, na Rua Terezinha do Prado Oliveira, 300) e o Palco MBoi Mirim, com Nação Zumbi e Gabi Amarantos (respectivamente às 22h de sábado e 17h de domingo na Avenida Inácio Dias da Silva, s/nº). O tempo que se perde na locomoção é o que pode comprometer o espírito da festa. Estar no centro é poder ver shows a noite toda, caminhando alguns minutos entre um e outro. Um show que sai desse perímetro pode consumir quase que a noite toda.
Outra novidade: a Virada passa a contar com um happy hour, um esquenta. Será entre 17h e 23h desta sexta, 20, e estará distribuído pelo antigo centro comercial de São Paulo seguindo até a Praça da Sé. O projeto Jazz na Kombi vai levar música ao Viaduto do Chá, os sambistas da comunidade Samba da Vela vão ocupar a Praça Dom José Gaspar e o rapper DJ Hum, precursor do gênero no Brasil, vai estar na esquina nas ruas Dom José de Barros com Barão de Itapetininga.
O show que surgiu de última hora é uma homenagem ao cantor Cauby Peixoto, morto no domingo, 15. Às 18h de domingo, no palco da Praça da República, se apresentarão sua grande amiga Angela Maria, Agnaldo Timóteo, Fafá de Belém, Vânia Bastos e o cantor Ayrton Montarroyos (um dos finalistas do programa The Voice, de 2015).
O palco principal, erguido em frente à Estação Julio Prestes, também sofre com o que a Prefeitura chama de reajuste. Depois de abrir com Ney Matogrosso e seguir com Alcione e Baby do Brasil mais Armandinho, ele encerra suas atividades à 1h e só retorna às 12h do domingo, com Osesp, Criolo e Nação Zumbi mais o grupo suíço Young Gods.
A expectativa é de que muitos shows sejam feitos sob o clima de protesto com relação à extinção do MinC. Curiosamente, palcos de posturas mais politizadas, como os espaços do metal, do rap e do reggae, deixaram de existir nesta edição. Ou tiveram seus representantes espalhados em áreas não temáticas. Mano Brown, por exemplo, vai cantar à 1h da manhã de domingo no Centro Cultural Cidade Tiradentes e, às 17h, no Jardim Helena.
Será a maior concentração de artistas desde que a classe passou a se manifestar em peso com o fechamento do Ministério da Cultura.
Os ânimos podem estar mais acirrados, mas a secretária de Cultura, Maria do Rosário Ramalho, diz que investir na “sensação de segurança” foi uma prioridade. “Trabalhamos muito lado a lado com a Polícia Militar.” Ela informou também ao Estado que a cidade vai estar mais iluminada, para tentar diminuir ocorrências em pontos escuros, como a Praça da República (um desafio que pegou o então secretário de Cultura, Juca Ferreira, de surpresa na Virada de 2014). Além da PM, 1500 seguranças particulares e 2.500 homens da Guarda Civil Metropolitana estarão pelas ruas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.