A preocupação dos Estados Unidos sobre a segurança das redes 5G e sobre os riscos que a chinesa Huawei oferece para as redes mundiais é compartilhada pelos partidos Republicano e Democrata, disse o subsecretário para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado dos EUA, Keith Krach. Em visita ao Brasil, o subsecretário garantiu que não haverá mudança em relação a essa política.
"Esse assunto relacionado ao Partido Comunista Chinês é o mais unificador, bipartidário para os dois lados, tanto para republicanos quanto para democratas. Isso não vai mudar de jeito nenhum. Os dois lados entendem o significado estratégico do 5G e as implicações que isso tem. É uma enorme mudança de tecnologia e republicanos e democratas entendem que a Huawei é a mais importante empresa para a China, é uma extensão do braço de vigilância do estado chinês", disse ele, em conversa com jornalistas, na quarta-feira, 11.
Krach não mencionou nem Donald Trump nem Joe Biden, mesmo com a iminente mudança de governo em 20 de janeiro, com a posse do democrata. Ele disse que espera uma "transição pacífica" entre as duas gestões.
O subsecretário veio ao Brasil para defender a adesão do País à iniciativa "Clean Network", que une países e empresas em favor de fornecedores confiáveis, uma tentativa de impedir que os equipamentos da empresa chinesa, líder mundial na tecnologia 5G, sejam utilizados nas redes de telecomunicações. Segundo ele, não se trata de uma guerra comercial entre EUA e China, mas sim "nações livres contra nações autoritárias".
Na terça, 10, em cerimônia no Itamaraty, ele anunciou que o Brasil aderiu à iniciativa diplomática. O secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, disse que o Brasil apoia os princípios da iniciativa por um ambiente seguro, transparente e compatível com valores democráticos e valores fundamentais.
O governo brasileiro, porém, não confirmou a adesão ao protocolo. Embora tenha contado com a presença do chanceler Ernesto Araújo, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, cuja pasta tem relação direta com o 5G, não participou da cerimônia. Banir a Huawei do Brasil é uma decisão que dependeria da publicação de um decreto presidencial.
Mesmo sem essa adesão oficial, Krach disse considerar que o Brasil já é o 50º país a aderir à Clean Network. Ele também minimizou o fato de que as operadoras que atuam no Brasil não tenham aceitado o convite para encontrá-lo.
"Temos 50 países e 170 companhias de telecomunicações dentro da Clean Network. O CEO da Telefónica, José López, foi um dos primeiros a aderir e garantiu que haverá redes limpas na Espanha, Brasil, Alemanha e Reino Unido", disse. O subsecretário citou ainda conversas com a Telecom Itália e a Claro no México nesse sentido.
Uma das principais resistências das operadoras ao banimento da Huawei é o custo. Os equipamentos são até 40% mais baratos que os das concorrentes, e estão presentes em 35% a 40% das redes de 2G, 3G e 4G brasileiras. Substituí-los demandaria investimentos bilionários.
Para o subsecretário, a presença da Huawei nas redes brasileiras se deve a subsídios do governo chinês. "Claro que é mais barato, é uma companhia subsidiada pelo governo chinês. A companhia quer os dados, é por isso que é tão barato", disse.
Krach afirmou ainda que o Brasil pode ter oportunidades de investimento e empregos com o protocolo Open RAN, padrão que permite a combinação de equipamentos e programas de diferentes fornecedores que conversem entre si. "Ficar com a Huawei é um caminho sem volta. Qual o custo dessa decisão no longo prazo? O quanto vocês confiam na China?", questionou.
O subsecretário lembrou ainda que os EUA estão dispostos a financiar investimentos de 5G no Brasil e reativou recentemente o banco de importações e exportações.