Visando Tóquio, taekwondo nacional investe em software de realidade virtual

Para manter a rotina de treinos durante a pandemia do novo coronavírus e realizar atividades de alto rendimento visando grandes competições, os atletas brasileiros precisaram se reinventar no período de isolamento social. Esse é caso da dupla de taekwondo Ícaro Miguel e Milena Titoneli, que começou a utilizar um software de realidade virtual para simular as características de possíveis adversários. Até então inédito no mundo da luta.

Com essa tecnologia, os atletas que já estão classificados para a Olimpíada de Tóquio, adiada para 2021, sentem que estão um passo à frente de seus adversários durante a quarentena. Isso porque a ferramenta é capaz de capturar movimentos dos rivais e simular combates. De acordo com Ícaro Miguel, o sistema proporciona "uma experiência muito vasta de características".

"Sabemos que devido à pandemia não podemos ter um grande grupo de pessoas treinando e, graças ao sistema, eu consigo tirar essa diferença e ter cada adversário simulado de forma virtual. É a vantagem de usar esse sistema trabalhando a nosso favor", conta o número 1 do mundo em entrevista ao <b>Estadão</b>.

Ao utilizar os trajes de captura de movimento acoplado com óculos de realidade virtual, os atletas também garantem medições de desempenho. É possível analisar os treinamentos e a tomada de decisão no momento da luta. O software funciona por meio de uma série de sensores espalhados pelo corpo que possibilita a realização de um combate tático.

A novidade foi fundamental para Ícaro Miguel seguir sonhando com o pódio em Tóquio e fazer planos para participar de competições ainda em 2020. "Essa tecnologia veio para inovar. É algo que faz a diferença e que pretendemos continuar utilizando mesmo após a pandemia. Dificilmente alguém vai conseguir simular exatamente como seria a luta de um certo adversário. Eu acredito que um sistema consegue fazer praticamente a mesma coisa do que seria o próprio adversário", afirma.

"Esse ano eu ainda pretendo ir para mais dois eventos: o Grand-Prix Final e o Grand Slam. As duas competições serão realizadas em dezembro. O primeiro em Cancún e o segundo no Japão, ainda dependendo da uma classificação que pretendo conseguir em novembro. Depois disso, o foco total é na Olimpíada", garante Ícaro Miguel.

Milena segue os passos do companheiro de equipe. Ela também optou por permanecer em isolamento e com foco total nos treinamentos. "Com esse software nós realizamos muitos treinos de reação, o que nos ajuda muito. Durante essa pandemia e o fato de não participar de eventos, conseguir chegar o mais perto possível de simular uma competição é a nossa vantagem", diz.

Ambos os atletas estão isolados há cinco meses, desde quando retornaram do pré-olímpico na Costa Rica. Seguindo as orientações de seus treinadores, eles estão em um sítio localizado em Itapevi, na Grande São Paulo. No local, foi montado uma espécie de Centro de Treinamento, seguindo todas as ordens das autoridades de saúde para evitar o contágio por covid-19.

OUTRAS BATALHAS – Para garantir uma medalha em Tóquio, Ícaro Miguel está enfrentando uma batalha que vai além das competições. Com apenas 10% da visão no olho direito por conta de um acidente doméstico na infância, ele resolveu adiar a cirurgia de transplante de córnea para não se afastar do esporte.

"O desejo de ser campeão olímpico nasceu no meu coração desde quando era criança e acredito que vai permanecer mesmo depois que eu ganhar uma Olimpíada. Eu quero ser bicampeão olímpico, tricampeão… Como eu sempre falo, nasci para fazer história. Esse é o meu propósito dentro do esporte", conta o atleta.

Para garantir essas conquistas, ele pretende não interromper a carreira. "Posso não conseguir tudo o que eu planejo, mas vou trabalhar para conquistar a maior quantidade de vitórias possíveis. A respeito do transplante eu não tenho pretensão nenhuma de fazer isso agora. O meu foco é trabalhar para ganhar o ouro olímpico. Posso pensar nisso após a encerrar a minha carreira", complementa.

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