Barinas, Estado natal do presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013 e conhecido no país como comandante , deixará de ser governado pelo chavismo pela primeira vez desde 1998, após a histórica vitória da oposição na eleição para governador, repetida no domingo por ordem judicial.
O adversário Sergio Garrido, desconhecido na política nacional, venceu com 14 pontos de vantagem sobre o ex-vice-presidente e ex-chanceler Jorge Arreaza, que teve todo o poder do governo à disposição durante a campanha.
Garrido conquistou 172.497 votos (55,36%) no primeiro boletim oficial e Arreaza, 128.583 (41,27%). Um terceiro candidato, Claudio Fermín, acusado de colaborar com o chavismo para dividir o voto da oposição, encerrou com 5.996 (1,77%).
"O povo nobre, leal e valente de Barinas conquistou a vitória", comemorou Garrido, que rompe 24 anos de hegemonia chavista neste Estado, que sempre foi governado por um familiar do pai da chamada Revolução Bolivariana nas duas últimas décadas.
Arreaza reconheceu a derrota no Twitter mais de uma hora antes do resultado oficial ser conhecido. "A informação que recebemos de nossas estruturas do PSUV (o Partido Socialista da Venezuela) indica que, embora tenhamos aumentado os votos, não alcançamos o objetivo", escreveu Arreaza, que foi genro de Chávez e é pai do primeiro neto do homem que governou o país entre 1999 e 2013.
Nesta segunda-feira, 10, Garrido disse que estava disposto a conversar com o chavismo para buscar soluções para essa região. "Estamos dispostos a chegar a conversações com quem quer que seja, sempre o quanto for possível para podermos ajudarmos a esse povo de Barinas que tanto necessita e resolvermos os mil e um problemas que temos", disse ele à agência France Presse.
A votação ratifica a vitória iminente da oposição no dia 21 de novembro, que foi anulada pelo Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), pró-governo, alegando que o então candidato da oposição, Freddy Superlano, estava desqualificado devido a investigações judiciais.
A Corte afastou também sua mulher, que seria sua substituta, e uma terceira candidata, deixando Garrido, eleito para o Parlamento regional em novembro, como quarta opção.
"A mesma expressão popular que foi apresentada no dia 21 (novembro) foi apresentada dessa vez com mais força", lançou Superlano.
A popular canção Linda Barinas foi cantada sem parar pelo comando da oposição, que explodiu em aplausos quando o resultado foi divulgado. "Há muito tempo que esperávamos por esta vitória", comemorou Karmín Sánchez, um ativista de 21 anos do partido de oposição.
Uma plataforma com uma tela gigante que o chavismo instalou para comemorar uma eventual vitória foi deixada sozinha, na escuridão, muito perto de sua base de campanha.
<b>Mensagem</b>
O ex-deputado da oposição venezuelana e líder opositor reconhecido como presidente do país por mais de 50 nações, Juan Guaidó, considerou nesta segunda-feira, 10, que a vitória de Garrido enviou uma mensagem muito clara e firme.
Em entrevista coletiva em Caracas, o político afirmou que a mensagem é para toda a liderança da oposição e para o regime, como se refere ao Executivo de Maduro.
"Barinas dá uma lição a todos os venezuelanos, à ditadura, de resistência, de coragem, de foco, de unidade, de distanciamento por parte da liderança de Barinas, de humildade", disse Gauidó. "O orgulho não é uma boa orientação política."
Segundo Garrido, a vitória da oposição ocorreu apesar dos esforços do partido no poder para influenciar os eleitores. Desde novembro, o partido governista vinha entregando sacolas de alimentos subsidiados e aumentando o abastecimento de gasolina, disseram ONGs e oponentes, denunciando a tática como uso indevido de fundos estatais.
O partido no poder conquistou governadores em 19 dos 23 Estados da Venezuela em novembro, enquanto a oposição venceu em 3. Mas a legenda viu o número de votos recebidos cair para 3,9 milhões nas eleições de novembro, de acordo com as autoridades eleitorais, em comparação aos 5,9 milhões de votos durante as eleições regionais de 2017. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)