Quem viveu os anos 2000 e 2010 sabe muito bem o que é ir ao supermercado e encontrar, na seção de revistas, a promessa de diversão instantânea: os famosos CDs da Digerati. Mais especificamente, o lendário CD “Digerati – 404 jogos” que acompanhava a revista Click.
Naquela época, a internet ainda era um recurso limitado, muitas vezes discada, e nem todo computador aguentava rodar jogos que precisavam de download e instalação (processos que demoravam horas). A Digerati, reconhecendo essa barreira tecnológica, revolucionou o entretenimento doméstico com mensagens atraentes na capa: “Todos os jogos rodam direto do CD” e “Não precisa instalar”.
Dessa forma, os CDs de jogos passaram a ser revolucionários, pois traziam alegria e entretenimento suficiente para vários dias. O sucesso foi tanto que a cada visita ao supermercado, era comum se deparar com um volume novo, gerando uma febre de colecionismo.
Quem chegou a comprar essas revistas deve lembrar até do som característico do launcher quando iniciava ou fechava. Toda vez que o CD era colocado e o programa abria, uma mistura de felicidade e curiosidade tomava conta do usuário. Havia várias categorias de jogos e a vontade era de ir abrindo um por um até achar o favorito.
Ademais, dentre todas as opções que vinham nos CDs da Digerati (que podiam chegar a mil jogos por volume, dependendo da edição), alguns títulos são responsáveis por um gosto em jogos digitais que jamais foi superado. Muitos desses jogos eram demos, freewares ou flash games reunidos, oferecendo uma vasta biblioteca em um único disco.
Mais do que jogos para alguns, a infância de muitos

A Digerati (estilizada como DIGEЯATI) foi uma editora brasileira de grande relevância, localizada em São Paulo. Sua atuação não se limitava apenas a games; a empresa era responsável pela publicação de diversas revistas e livros em variados segmentos, incluindo tecnologia, informática e, claro, games. A Digerati chegou a atuar também na Espanha.
O que tornava a Digerati tão importante era a forma como ela democratizava o acesso ao conteúdo digital em uma época de internet lenta e cara. A editora publicava guias de informática, como “o guia do hacker”, e produzia coleções de CDs-ROMs que incluíam desde cursos (como de inglês e informática) até softwares para criação de sites.
No segmento de jogos, o modelo de negócio era engenhoso: a Digerati comprava ou reunia milhares de jogos (principalmente flash games, shareware e demos) disponíveis online ou criados por desenvolvedores independentes, e os gravava em um CD que acompanhava uma revista de baixo custo. Em vez de vender um único jogo caro, eles vendiam o conceito de milhares de horas de diversão garantida que não exigia instalação, com títulos que variavam de 62 games de carros a coleções de 6000 jogos, muitas vezes temáticos (como Super-Heróis, Dragon Ball ou Pucca).
A editora criou uma vasta coleção que inclui títulos como:
- Ultimate Games (chegando a 6000 jogos).
- Game Mix.
- Game Zone.
- Top Games Kids.
O legado da Digerati é inegável, representando uma fase de ouro para a comunidade de jogos de PC no Brasil e marcando a infância e adolescência de uma geração que hoje se mobiliza para preservar o que restou de seu vasto catálogo de CDs.
Muitos dos jogos e até mesmo algumas edições de CDs da Digerati são hoje consideradas lost media (mídia perdida), e encontrar suas ISOs se tornou uma verdadeira caça ao tesouro para colecionadores e saudosistas.



