Estadão

Volta ao mundo em filmes

Sempre interessado em apresentar novidades para o público cinéfilo, o Belas Artes à La Carte iniciou o primeiro de uma série de festivais sob a rubrica Volta ao Mundo. A ideia é colocar o foco em diferentes cinematografias e, para começar, numa parceria com a Swiss Film Foundation, a plataforma propõe, durante duas semanas, até dia 19, uma programação formada por oito títulos, incluindo dois clássicos de Alain Tanner, O Último a Rir e Na Cidade Branca.

Antes de prosseguir, talvez se deva lembrar que o cinema suíço desfrutou de grande prestígio nos anos 1960 e 70, graças a autores como o citado Tanner e Claude Goretta. Os dois possuem uma conexão com a Inglaterra, por meio do British Film Institute, onde estudaram. Goretta fundou, no começo dos 50, o Cineclube de Genebra. Em Londres, Tanner e ele frequentaram o ambiente teatral que nutriu o chamado free cinema.

Goretta voltou à Suíça e começou a trabalhar principalmente na televisão, antes de proporcionar à jovem Isabelle Huppert um de seus grandes papéis em Um Amor Tão Frágil, de 1976. Tanner fez filmes experimentais na França, antes de retornar à Suíça Romana, basicamente francófona.

Em 1969 e 70, fez dois filmes sucessivos, O Último a Rir e A Salamandra, que abordaram o tema da alienação individual levada ao limite da loucura. Charles tenta escapar a toda ordem social. É filmado com um distanciamento digno de Bertolt Brecht. Seguiram-se Amantes no Meio do Mundo e Jonas que Terá 25 Anos no Ano 2000. Na Cidade Branca, de 1983, talvez seja sua obra-prima. Bruno Ganz faz o marinheiro, na verdade um engenheiro naval, que desembarca em Lisboa. Munido de uma câmera, ele vaga pela cidade branca captando imagens que envia para sua mulher, na Suíça. Cresce seu sentimento de vazio existencial. E é aí que ele conhece a portuguesa Rosa.

A par de sua riqueza estético/política, Na Cidade Branca oferece um papel emblemático a Ganz, grande ator de Wim Wenders. Os demais filmes anunciados no Festival Volta ao Mundo são justamente de 2019 e 20. Love Me Tender, de Kaudia Reynicke, Deserto, de Frédéric Choffat e Julie Gilbert, Desejo de Voar, de Andrea Staka, O Caminho para Moscou, de Micha Lewinsky, Espacate, de Christian Johannes Koch, e Sturm, de Oliver Rihs.

Love Me Tender é sobre uma mulher que sofre de agorafobia e vive com os pais. A morte da mãe e a debilidade do pai a confrontam com a necessidade de encarar os próprios problemas. Deserto leva dois homens apaixonados ao deserto do Arizona, nos EUA, atendendo ao chamado da mulher que os inspira. Um deles é interpretado por Mathieu Démy, filho do casal de cineastas Agnès Varda e Jacques Démy. Desejo de Voar mostra essa mulher insatisfeita com sua vida. Ela mora junto ao aeroporto. Vê todo dia o movimento dos aviões. Conseguirá voar? Marija Skaricic foi melhor atriz no Festival de Sarajevo.

A Caminho de Moscou baseia-se numa história real. Um policial se envolve com a atriz de esquerda que está investigando. Qual será o futuro de ambos? Espacate retrata o drama dos imigrantes ilegais: professora casada tem um caso com o pai de uma das alunas. Ele não tem visto de residência. Quando a filha é pega roubando e vai parar na delegacia, o pai, a professora, todo mundo termina desmascarado. E Sturm é sobre advogada que se envolve com ladrão que tem conseguido escapar do flagrante.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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