Educação

Volta às aulas divide pais, professores, empresários e autoridades

Escolas particulares querem retornar; Sindicato dos servidores é contra a volta nas públicas

A volta às aulas presenciais neste período de pandemia já se transformou em um dos principais temas de discussão neste momento em que os números revelam um declínio nos casos e mortes de coronavírus no Brasil. Em Guarulhos, onde os índices revelam queda considerável nas últimas duas semanas, a situação segue indefinida. A Prefeitura proibiu qualquer retorno às aulas nas redes municipal, estadual e privada até o final de setembro. Uma nova decisão será anunciada no final do mês.

Porém, movimentos organizados por proprietários de escolas particulares buscam a liberação das aulas com a adoção de protocolos de segurança voltados a alunos e profissionais. Eles têm a seu favor os transportadores escolares, que estão sem atividades desde o início da pandemia, donos de cantinas e pais que retornaram ao trabalho, pagam suas mensalidades, mas não podem enviar os filhos às unidades de ensino. Mas professores e funcionários temem ser infectados pelo coronavírus e se mantém reticentes quanto ao retorno.

No Rio de Janeiro, por exemplo, onde o Estado liberou a volta às aulas, sindicatos de profissionais da educação entraram com ações da Justiça do Trabalho para impedir o retorno das atividades. No Estado de São Paulo, há a liberação para atividades nas escolas a partir de uma série de restrições e com a autorização dos municípios. Mas mesmo assim foram poucas as prefeituras que liberaram as unidades de ensino.

Em Guarulhos, não é diferente. Enquete realizada pela Secretaria Municipal de Educação em julho junto aos pais de alunos da rede escolar indicou que 87% não iriam mandar seus filhos para as escolas caso as aulas fossem reiniciadas em agosto. De lá para cá, movimentos ligados a professores e funcionários públicos sinalizam que os profissionais não querem o retorno, porque temem ser infectados pelo vírus. O Sindicato dos Servidores Municipais (Stap) já se manifestou contrário ao retorno das aulas. 

“O que estamos propondo é um retorno presencial de 20% dos alunos por dia da semana, o que equivale, aproximadamente, a 4 alunos por sala por dia. O aluno iria para a escola uma vez por semana, com todos os cuidados, para eles e para os professores e funcionários”, afirma o presidente da Associação das Escolas Particulares de Guarulhos, Wilson Lourenço.

Por enquanto, no Brasil a maioria das escolas permanece fechada e sem previsão de quando vão reabrir. Mas já há alguns planos mais avançados. Em São Paulo, o governador João Doria anunciou que as aulas presenciais voltam no próximo dia 7 de outubro. O retorno será gradual e, na primeira etapa, vai atingir até 35% dos alunos. No Rio de Janeiro, algumas escolas da rede privada já retomaram suas atividades em agosto, mas com relatos de pouca presença de alunos e processos na justiça contra a reabertura. Alguns sindicatos de professores estão em greve contra a reabertura.

No mundo

Desde março, diversos estudos já foram publicados com dados empíricos coletados nesta pandemia. Os governos têm se debruçado sobre essas pesquisas para tomar suas decisões. Pesquisas sugerem que pode ser seguro reabrir escolas onde não há grandes surtos da doença, mas que seria necessário manter medidas como distanciamento social. Além disso, seria vital ter um bom sistema de testes e de rastreamento de contatos, algo que não acontece em geral no Brasil.

Os estudos também mostram que professores, funcionários e alunos de escolas secundárias estão em maior risco que crianças pequenas de contrair a Covid-19. Uma das pesquisas sobre o tema foi publicada na revista científica “The Lancet Child & Adolescent Health”. E ela sugere que escolas podem reabrir onde houver outras formas de se controlar a pandemia, como distanciamento social.

Foram analisadas as escolas do Estado mais populoso da Austrália, New South Wales, entre os meses de janeiro e abril, quando a pandemia começou no país e atingiu seu pico. Nesse período, a maior parte das escolas ficaram abertas, mesmo quando em outros segmentos da sociedade eram registrados grandes surtos da doença.

No hemisfério norte, setembro coincide com o começo do ano letivo e muitos países já reabriram, como a Itália, onde a pandemia eclodiu em fevereiro. No Reino Unido, o governo disse que sua prioridade máxima é retomar as aulas a partir de setembro, e estuda até fechar outros segmentos da economia (como bares e restaurantes) como contrapartida para a reabertura das escolas.

O governo britânico também indicou que pode multar pais que não levarem seus filhos à escola, o que provocou reações fortes da sociedade. Um sindicato que representa 300 mil professores exige maiores garantias de que haverá segurança no retorno às aulas.

A Unesco diz que, em agosto, 60% da população estudantil do mundo estava sofrendo com o fechamento de escolas — e que esse índice chegou a 90% em abril. Foram poucos países — como Taiwan, Suécia e Nicarágua — que decidiram manter suas escolas abertas durante a pandemia.

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