Uma das maiores qualidades nas duas gestões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre 2002 e 2010, foi não ter mexido na política econômica implantada no Brasil em 1994 pelo ex-presidente Itamar Franco, quando foi criado o Plano Real. Os oito anos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Presidência serviram para dar ao país o lastro necessário para afastar o monstro da inflação de nosso cotidiano. Lula, por sua vez, tirou todo proveito possível da tão sonhada e esperada estabilidade econômica, tanto que conseguiu fazer sua sucessora no cargo, a presidente Dilma Roussef.
Porém, alguns passos em falso dados ao longo dos últimos anos colocam o Brasil de volta no mapa da inflação. Pesquisa com economistas, divulgada pelo Banco Central, mostra elevação de novo da previsão de inflação. Mas é bom lembrar que o Brasil ainda está bem melhor do que outros países, como a Argentina, que insiste em brincar com esse inimigo ao manipular os índices.Por aqui, pelo menos, isso nunca mais ocorreu.
Apesar de o BC ter subido a taxa de juros na semana passada, iniciando um ciclo de alta, o mercado está aumentando a previsão de inflação, porque outros dados mostram que o problema é sério. Há elevação de preços de commodities, provocados por vários eventos, como os fenômenos climáticos extremos vividos nos últimos meses.
No Rio de Janeiro, por exemplo, há uma tendência de inflação maior, por causa da Região Serrana, produtora de 80% hortifrutigranjeiros que abastecem as grandes cidades da Baixada Fluminense. São Paulo também sofre devido às cheias que afetam os sítios produtores do Alto Tietê. Já é possível perceber nos supermercados e feiras que o pé de alface não passa ileso a esses fenômenos.
Há outros fatores que pressionam a inflação, como excesso de demanda, alta dos serviços. Mas um dos maiores males – talvez esse tenha sido o maior pecado cometido por Lula – está no fato de um governo que não conseguiu controlar seus gastos e acabou por produzir um ambiente de inflação indo mais para o teto do que voltando para o centro da meta. Isso ficou mais evidente ainda no período pré-eleitoral, quando as torneiras do Palácio ficaram abertas além da conta, sem se importar com os riscos contidos nessa ação, por que não dizer, irresponsável.
Os sinais ainda são de atenção. Já está acendendo uma luzinha vermelha. Na semana passada, o BC demonstrou que vai manter o cuidado com a inflação. Na quinta-feira, sairá a ata com as justificativas para o início de um ciclo de aperto monetário. Mas dá para perceber que a presidente Dilma não terá bons dias pela frente. Terá que apertar o cinto neste primeiro ano de mandato, contrariando diretamente muitos de seus aliados e jogando contra aqueles que a elegeram. Tudo até para que seu partido tenha fôlego para as eleições de 2012 que vêm aí.