A guerra é uma catástrofe para quem vive sob fogo cerrado. Quem sobrevive às bombas, enfrenta escassez de comida, água e lida diariamente com a morte. Mas muita gente encara o conflito como uma oportunidade. Nos últimos dias, com a perspectiva de prolongamento dos combates, mercenários vêm se unindo a tropas ucranianas e russas.
O trabalho vem sendo anunciado em sites especializados e pode render até US$ 2 mil por dia (cerca de R$10 mil). A cidade polonesa de Przemysl, ponto de entrada de refugiados da Ucrânia, se tornou também rota de saída de combatentes que fazem o caminho inverso. Cerca de 20 mil atenderam ao chamado do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, para combater os russos. Muitos são voluntários.
A maior parte é composta por veteranos de guerra americanos, que à revelia da recomendação da Casa Branca, cruzaram o Atlântico para lutar ao lado dos ucranianos. Veteranos europeus, britânicos e holandeses, com experiências no Iraque e no Afeganistão, também se apresentaram à chamada Legião de Defesa Territorial na Ucrânia.
<b>DIVERSIDADE</b>
O americano Lane Perkins chegou na semana passada. A ideia dele é se apresentar a um posto de recrutamento em Lviv. "É uma causa nobre", disse o veterano de guerras no Iraque e no Afeganistão. "Esse confronto não foi provocado (pela Ucrânia)."
Natural de San Diego, na Califórnia, ele conta que entrou em contato pela internet com grupos de recrutamento ucranianos. Alguns exigem compromissos, como entrega do passaporte para que o voluntário não abandone a causa no primeiro revés. Outros são mais flexíveis e permitem uma colaboração menos forçada.
Passando a fronteira, os voluntários passam por uma triagem em Lviv. Alguns têm experiência em operações especiais, outros têm elos com milícias ucranianas de extrema direita – e há quem apenas se apresente para ajudar, sem qualquer formação militar.
Há, no entanto, quem seja especialista em combate. Dezenas de ex-soldados do Regimento de Paraquedistas, elite do Exército britânico, se apresentaram para lutar. Muitas vezes chamado de Paras, o regimento serviu no Afeganistão e no Iraque.
Segundo veteranos estrangeiros, eles podem ser úteis como franco-atiradores ou para treinar soldados ucranianos no uso de armas sofisticadas que os países ocidentais estão enviando. Faltam especialistas que saibam manusear armas antitanque, como o Javelin, que soldados profissionais treinam durante meses para usar corretamente.
O costume dos americanos de intervir no campo de batalha não é novo, disse o historiador David Malet, da Universidade Americana de Washington. Em uma guerra tão volátil e complexa como esta, porém, o envolvimento direto pode ter consequências perigosas. "Alguns militares podem ser tentados a se juntar às milícias ucranianas de extrema direita, acabar capturados ou mortos", disse.
O pior cenário, alertou Malet, é um incidente que leve os EUA a se juntarem ao conflito. Com isso em mente, o Pentágono fez um apelo para que seus veteranos não participem do conflito na Ucrânia. Em vez disso, o porta-voz do Pentágono, John Kirby, sugeriu que seria mais sensato doar para agências que respondem à crise humanitária. "Pedimos para lutarem na Ucrânia. Se alguém ainda estiver lá, pedimos que saia."
<b>MERCENÁRIOS</b>
Ontem, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deu sinal verde para o recrutamento de 16 mil soldados do Oriente Médio, que se juntariam ao esforço de guerra na Ucrânia. O Ministério da Defesa russo disse que os mercenários seriam enviados para a região separatista de Donbas, onde grande parte dos combates se concentraram.
Na Síria, os militares já começaram a recrutar tropas de suas próprias fileiras para lutar ao lado das forças russas, prometendo pagamentos de US$ 3 mil por mês – uma quantia de até 50 vezes o salário mensal de um soldado sírio. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>